quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O MENINO PABLO

O gênio se revelara prematuramente.

Com um ano de vida, Pablo falava fluentemente seu idioma pátrio. Aos dois, dominava a Sintaxe, a Prosódia e redigia com razoável caligrafia.

Com três anos tinha noção assustadora dos conjuntos matemáticos, incluindo-se o dos números complexos e seus fundamentos.

Aos quatro anos, surpreendia os pais em frases enxutas, arrazoadas, embaraçando-os com uma lógica livre de sofismas e de vícios de linguagem.

Aos cinco anos, enfim, ele atingia toda a plenitude intelectual equivalente a de um sábio septuagenário.

Paralelamente a esse colosso intelectual, notara-se que o menino Pablo nunca sorrira, nem pranteara. Inspirava frieza, revelava temperamento estável, incrivelmente imune às influências externas que ditam os humores das criaturas.

Enquanto os pais, apreensivos, buscavam meios de aproximar-se do estranho garoto, ele comia só, dormia só, lavava-se, trocava-se – vivia, enfim, deliberadamente só.

Não era autista. Não mostrava propensão à esquizofrenia. Tinha boa saúde física e, aparentemente, mental, embora não possuísse amigos, nem brinquedos, nem qualquer paixão que fosse.

Tinha ainda cinco anos de idade, quando, certa noite, chamou cerimoniosamente os pais ao seu aposento. Muito sisudo, fez sinal para que se sentassem. E fitou-os como se fossem dois eternos desconhecidos.

-Eu já não tenho muito tempo neste mundo. – declarou, sem hesitação, a voz firme.

E mandou que separassem tudo que lhe pertencia, ou que pudesse ter tido uso comum a ele naquela casa: talheres, utensílios, roupas de cama e de banho, porta-retratos, documentos...

Os pais olhavam-no, estupefatos.

-É tudo! – ele finalizou.

A mãe mostrava o rosto banhado em lágrimas. Quis aproximar-se, abraçá-lo. O menino deteve-a firmemente, virando-se para o outro lado.

O esposo puxou-a para si, também emocionado. Fez sinal para que saíssem. Ela ainda murmurou, olhando o filho que lhe virava as costas:

-Por quê!...

Os resíduos cármicos, falsamente escamoteados no longíquo pretérito, diluíam-se, naquele qüinqüênio, criando no caminho evolutivo daqueles seres uma situação estranha, aos olhos do homem comum.

O corpo do menino Pablo amanheceu rijo, só. O cadáver estava simetricamente estendido no leito.

A partir daí, o planeta mostrava-se improfícuo para encetar a evolução no plano emocional daquele Espírito, que habitara por milênios em esferas onde os sentimentos haviam sido extirpados de suas civilizações.

2 comentários:

Unknown disse...

Um menino formidável, fruto de um Novo Mundo, de um Tempo Maior do que este Tempo, Humano Tempo, nos quais os sentimentos mundanos estão postos acima dos Sentimentos Espirituais, os mais elevados que os Seres podem ter, os mais Ideais. Uma criança poderosa, de curto tempo nesta Esfera, um Karma que se queimou para alcançar as Mais Altas Esferas.

MPadilha disse...

Quem é vivo sempre aparece! Seu lugar aqui é perene, jamais o deixaria fugir! Seja bem vindo!