segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Pânico


Traiçoeiro, o pânico não está na noite, mas no noturno, camufla-se na escuridão. Não vem do inimigo, mora dentro, esperando a densidade da sombra igualar-se à própria obscuridade, confundindo-se com ela.

Os olhos da coragem ficam cegos na penumbra e ela desaparece, desamparando a beira de um poço sem fundo essa que se entrega à covardia que emerge da solidão. Toda a sensibilidade se apresenta contra, criadora, perceptiva e o que não estava ali se mostra poderoso diante da ignorância que nunca procurou saber, a sensação do abandono coroe de dentro para fora.

Sentada encolhida num canto do quarto escuro, não conta mais nem com os próprios músculos que se recusam a reagir. Aproxima-se o sombrio trazendo consigo toda a crueldade imaginável numa fria brisa que lhe roça a nuca.

Não há voz, engole o grito que descarregaria o desespero, nesse silêncio, o barulho que vem da sombra evidencia-se afrontando a sua insignificância diante do acaso, que a tem disponível a qualquer que seja o seu malévolo intento. Abandonada pelos próprios instintos não é mais nada, não é ninguém, apenas percebe-se existindo impotente diante de um trágico fim que a escolheu numa noite fria, que contrasta o calor úmido de sua incontinência humilhante.

O pescoço tão rijo consegue sentir a cabeça entre as pernas envolta pelos braços, na tentativa impensada de absorver o derradeiro golpe vindo da escuridão. Mesmo diante da perda do último controle possível sobre si, ainda consegue perceber o rasteiro som que veio junto com o inevitável baque da morte, quando ouve:

Miau!

Um comentário:

MPadilha disse...

Caraca!
Doeu o meu pescoço. Repito, lembrei da minha gata, que dó.
Muito depressivo teu texto. Bom.