domingo, 1 de novembro de 2009

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--A senhora reconhece algum deles? O detetive apontou através do vidro: Seis homens enfileirados. Rosa estava segurando o choro enquanto olhava atentamente, um a um.
-O terceiro.
-Tem certeza?
-Olha, certeza, certeza, eu não tenho. Sofro de miopia, não vejo bem de longe. Eu tenho certeza que os outros não são, a pele era morena como a do terceiro.
-Hum...O policial coçou a cabeça e disse ao colega: Traga o rapaz aqui, o terceiro, vede os olhos dele para que não veja.
-Não. Não precisa. Deixe ele me ver. Quero que saiba que fui eu. Não me importo. Trouxeram o rapaz e a moça apoiou o braço na parede, estava enojada, levou a mão à boca.
-Está se sentindo bem? Quer um copo d'água”? O policial percebeu sua súbita palidez.
-Não. Não precisa, obrigado. Abaixou o rosto e vomitou no canto da sala.
-Por favor Dona Rosa, diga logo e retiro o meliante, assim se sentirá melhor. Reconhece o pedófilo que estuprou sua filha?
-Não.
-Não?
-Não é ele. Tenho certeza. Saiu em direção à porta e quando passou ao lado do rapaz, parou e olhou bem nos seus olhos. O rapaz virou de costas, não queria que ela mudasse de idéia. Dona Rosa, como se tivesse planejado, o abraçou por trás enquanto, ao mesmo tempo e sem piedade, enfiou fundo uma faca afiada em seu coração. As mãos juntas, firmes, não desprendiam, por nada. O sangue jorrava junto aos gritos do bandido, os policiais tentando tirá-la e a lâmina fundo, contraindo toda musculatura do corpo que estrebuchava.
-Tira ela...solta! Num tranco tiraram Dona Rosa e a faca ficou lá, cravada fundo enquanto o rapaz agonizava no chão da sala. Dona Rosa segurou o peito e num segundo viu tudo escurecer. Enfartou ali mesmo. Enquanto faziam os primeiros socorros, a mulher abriu os olhos e sussurrou:
-Perda de tempo, eu vou morrer.
-Não. A senhora tem que reagir, fique calma. Teve uma parada cardíaca e o médico de plantão teve que usar o desfibrilador. Por sorte tinham comprado um na semana passada depois que um policial falecera por demora no procedimento.
--Ela voltou...A senhora vai ficar bem, vamos levá-la ao hospital.
-Não...deixe-me morrer. O pulso estava fraco. O policial disse:
-Dona Rosa, o pedófilo está vivo, não morreu. Ele escapou e a senhora também vai viver. Ela abriu os olhos a procura do infeliz e começou a reagir.-Pronto. Apliquei um sedativo, agora a levem ao hospital.
-Por que disse que o cara estava vivo? Ele já agonizou faz tempo.
-Ela reagiu não foi?



Me Morte

3 comentários:

Gustavo Galves disse...

Muito bom! Objetivo e emotivo. É seu?

MPadilha disse...

Sim Gustavo, um dos que gostei mais de fazer. Faz parte do ebook LIBERDADE CONDICIONAL. Bjos

Adroaldo Bauer disse...

Excelente suspense e trama rápida. Veloz e feroz.
E, sim, a adrenalina vem de sabe-se lá onde em situações limite como a da obra inacabada.
Parabéns, ainda que seja eu, em tese, contrário à tese da justiça pelas próprias mãos, sei lá o que faria numa destas situações.