quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

DOR!

Ah, a dor!
Esta fera que consome a alma
Dissipa nuances de paz
Sufoca o anelo da esperança
Aborta a vontade de viver...


Qual dor é mais cruel?
Aquela que rasga o âmago?
Aquela que dilacera o corpo?
Aquela que enegrece a alma?
Aquela que embrutece o coração?


A dor!
Quisera ser forte,
Ser onipotente,
Herói imbatível,
Guerreiro invencível,
Mortal insensível...


As torturas castigam o físico
Derramam o sangue guardado
Cavam aberturas na carne
Marcas que se perpetuam
Sentidos que se embotam
Sensações... doentias... temporárias...


As mágoas fustigam a alma
Vazam o fel do descontentamento
Tragam a razão com voracidade
Tornam a visão obtusa
Destroem as pontes do possível
Demônios... loquazes... invencíveis...


Mas o pesadelo maior
A destruição total
A aniquilação final
Só vem com o remorso
A certeza de ter falhado
De ter sido negligente
De ter cometido o pecado
Que não tem a ver com igrejas
Que não é orientado pelas leis
Que não atinge o homem
Que afunda o profanador
Que morre o verme
Que sangra e corrói
Ódio e crueldade sem piedade
Abatendo com furor.


Não! A deserção da Verdade!
A mentira regendo o mundo
Castrando a inocência do eu
Corrompendo a pureza da Vida
Conspurcando a existência
Destronando a liberdade
Condenando toda humanidade!


Então viverei o martírio
Dos que se lançam ao abismo
Daqueles condenados
Degredados por escolha
Imersos nas profundezas
Acolhido pelo inferno
Vomitados pela Terra
Expulsos de seu ventre
Malditos... desgraçados... vis...
Apenas espectros... sombras...
Rastejantes proscritos do parnaso
Desprezados pelos anjos
Hostilizados pelos demônios
Esquecidos pelo perdão...


Ah, a dor!
Pudesse ser a mestra do fim.
Enclausurar a alma sofredora
Finalizar o ser à nulidade
Morbidez de um fomento
Que jamais deveria ser
Que não suscita louvores
Cria abominada... gerando horrores...


Mas a dor que é minha
Esta insensata tirana
Aprisiona minha alma
Num degredo sem fim
Angústia que incapacita
Destrói o ensejo
Turvando o oceano
Tempestades em mim...


E assim, esta dor ferina
Sendo a mais cruel de todas
Aniquila o eu agonizante
Suprime toda a individualidade
Traduz-se num não ser
O vácuo pleno da existência
O morrer, em Vida, da humanidade.

Nenhum comentário: