domingo, 17 de outubro de 2010

Instinto animal



Amanhece, um céu cinzento cobre a cidade. Continuo à janela do prédio, um cheiro nauseabundo no pequeno quarto. É aquela maldita fedendo! Ainda não desovei o corpo da garota.
- Infeliz! Teve o azar de cruzar comigo na rua. ‘Xá pralá...
O pior é essa coceira nas mãos, me deixa impaciente. Já tomei todos os comprimidos calmantes, continuo alerta, desperto, e essa vontade louca de ver sangue.
Quatro dias que não prego o olho, não tenho fome, só sinto esse formigamento nas idéias. A voz irritante que sussurra debochada ao meu ouvido, sem parar...
Lá fora, um pedinte roto e encardido passa esfregando as mãos para espantar o frio. Que nojo, parece barata no lixo. Não faz falta nenhuma, por que sobrevivem essas imundícies?
A cidade parece acordar agora. Uma dona de casa, velha e gorda, passa desgrenhada em direção ao mercado do pão. O operário com sua bicicleta, vai cabisbaixo, em direção à obra. A marmita pouca e amassada deve levar a sopa já fria para o almoço.
Opa! Lá vem a menina colegial, as tranças balançam ao vento, a saia curta mostra as pernas arroxeadas pela temperatura baixa.
Saio apressado à caça... Umas duas quadras, ruas desertas, o fio de nylon já esticado nas mãos. Dou um salto rápido. Ergo o braço para tapar-lhe a boca. Pela surpresa e terror, ela desmaia. Droga! Nem o prazer de vê-la debater-se. Aperto um pouco mais e giro seu pescoço franzino que estala. Ela fica ali, como uma boneca abandonada por alguma criança.
Estou melhor, agora. Volto ao apartamento miserável, no maldito prédio. Mãos nos bolsos das calças, enfio o pescoço entre a gola do casaco, o ar gelado batendo-me as faces. Comecei bem o dia...


Lu czer 

Um comentário:

Let's disse...

Era para assustar? rs conseguiu! boa semana