quinta-feira, 17 de abril de 2008

Oculto


A meia noite não é a hora em que o oculto se manifesta. Ele se revela a qualquer instante, sem cruzar nenhum portal, nem mesmo o seu olhar distraído. Você nunca saberá o que realmente se passa na cabeça do indivíduo que está bem a sua frente. Que tipo de atrocidade ele já foi ou ainda é capaz de cometer.
Muito do que você considerou hediondo, foi obra de um bom amigo de alguém, de um bom vizinho, bom marido ou até mesmo um bom pai ou mãe. A maldade pode se apresentar sem precisar brotar das profundezas de nenhum inferno, ela pode estar dentro de qualquer um nesse momento, brotar de um instante para o outro sem que ninguém ao seu lado perceba. Deixar sem significado o que você conotou ser humano.
Aquele a quem confiou seus segredos, quando acreditou estar diante de uma pessoa do bem, de repente surpreende, indigno. Representando o pior mal que poderia supor, facilitando o trabalho do que gargalha sórdido, vencedor no seu propósito de arrastar para a infelicidade, para as sendas da degradação os que se consideram filhos, filhos de quem?Não se iluda, o mal é mais eficaz do que a sua pretensão em ser bom. Supera qualquer índole, qualquer formação, culturas inteiras rendem-se, certas de estarem matando milhares em nome de algum bem. Não se engane, dos mais cultos e mais letrados já se deixaram lograr, prestativos ao maligno, e quem seria você? Só mais uma alma que se deixa subjugar, maravilhada pelo encantamento do que crê ser um dom. O mal está no seu cerne, prestes a se transformar em letras e palavras, veiculo das forças perversas, nem tão ocultas, menos ocupadas agora, com sua disposição em colaborar com disseminação do pavor, no distanciamento de qualquer bem possível.
Muito já se escreveu, muitas poesias, com o intuito velado de disseminar a ignorância e fazer emergir de dentro de pessoas como você, o que os milênios tentam, com tanta temperança, ocultar.
Nesse ponto você, com certeza, já teve a chance de repassar para si próprio, o que esconde de todos, as suas porções sádicas, perversas, iguais as do seu vizinho, que você imagina conhecer tão bem. Esteja atento, de onde menos espera virá a punhalada traiçoeira e vingativa, pelo seu próprio descuido, provocada em algum momento pelo seu próprio mal.
Como tantas outras, estas palavras foram combinadas para lhe trazer desconforto e trouxe. Geradas com e a única intenção de distanciá-lo do que possa considerar bem, como está agora, ciente de sua capacidade de proporcionar a mesma sensação no seu próximo, seu irmão, por pura crueldade maligna e o fará, por ser incapaz de resistir a quem é mais cruel e eficaz do que a sua razão. O seu senhor, a sua desumanidade. Receba a minha maldade e pense no seu vizinho, ele está pensando em você agora.

2 comentários:

MPadilha disse...

Conforme vou lendo teu texto vai me dando calafrios. Eu já senti isso, e como!

ociné disse...

É, eu posso imaginar!