terça-feira, 12 de agosto de 2008

MÓRBIDO AMOR




Ela tinha que ser preparada para a cerimônia fúnebre, e isso era a função dele. Seus longos e negros cabelos, sua pele alva. Lembrava um soneto que Ele lera há anos atrás. Ou será uma poesia? Ele não lembrava no momento, sabia que era de Alvarez de Azevedo e sentia que se enquadrava perfeitamente aquela situação.

Os olhos antes cheios de brilho agora opacos um conjunto mórbido com a boca pálida.Apenas negros.Não discernia, Ele pupila nas órbitas secas somente pontos escuros a fitarem-no tristes e doces ao mesmo tempo.

Como pudera Ele deixar que ela fosse-se tão rápido, não se permitindo mergulhar em seus lábios ao menos uma vez?

Banhou-a lentamente admirando seu corpo nu. Depois cumpriu religiosamente o tamponamento feito por ele nos mortos, tantos naquela época em que a epidemia ceifava vidas. Com cuidado executou a tarefa de cubrir-lhe com vestes claras que a mãe da moça lhe trouxera poucas horas atrás.

Ela estava pronta. Sim seria o final para Ela, para os dois então.


***


Cinco badaladas na torre da igreja. Já é hora. Ela agora jaz entre as sombras escuras. Ele sabe disso.

***

Sonhos invadem seu leito. Ele não a esquece, a pele, a cor rósea dos mamilos juvenis da donzela falecida. Singela. Teria sido ela desmistificada por outro homem como ele o fizera ao conhecer seu tímido corpo?

***

Trás consigo a força de um jovem apaixonado. Ergue a tampa pesada de concreto que oculta o berço negro da amada. Ela dorme o sono injusto de uma morte prematura.

Seus lábios belos e tristes ressecados, ele os beija ternamente e os umedece com a própria saliva. A toma em seus braços e ergue suas vestes claras. A despe com cuidado como um noivo faria com sua amada. Ela não possui a rigidez cadavérica, seus membros ainda caem lânguidos sob o movimento. Ele a deseja, mas teme ser pecado o que está prestes a fazer. Pecado? Como seria se ele a deseja mais que a própria vida? Retira as tamponagens de seus órgãos genitais e explora apequena vulva da moça.

Consome o ato entre na penumbra do cemitério, ignorando os vestígios de infecção no corpo da vítima. As sombras da noite ocultam mórbido amor que acontece sobre um túmulo enquanto o aroma das velas envolve os corpos unidos.

Ele está apaixonado. Ele iria onde ela fosse. Ele a amaria mesmo após a morte.



Juliana T P

Um comentário:

MPadilha disse...

Eca! Eca! Eca! Que esse blog tá bom demais! Cara! Nunca vi tanta morte e paixão juntas...Muito bom!