sábado, 16 de agosto de 2008

NOSSO ESQUELETO NO ARMÁRIO



ou eu queria um frasco de remédios e uma tequila


Aquela porta sempre me incomoda, não sei o porquê – mas algo me diz que meu lado mal esta dentro dele... penetrado em seu interior, no estomago do armário, guardado como um mal impermeável e absoluto. Qual é o meu divisor de águas mesmo... não me lembro.


Ele era um homem comum, sem méritos. Casara-se e separou-se pouco tempo depois, acho que meses (que espécie de narrador eu sou)... não foi uma separação calma, a pele foi dividida, não a dela, claro, mas a dele, morreu quando ela ambicionou deixá-lo. Na verdade... ela morreu.


Essa porta deveria ser lacrada.


Assim como minha mente, meu cérebro deveria ser proibido de me lembrar o conteúdo desse armário... na realidade o conteúdo de tudo, do meu passado, daquele dia.


Chovia copiosamente, quando entrou em casa deparou-se com a esposa na porta com malas prontas, tentou segurá-la, mas nada... qual o quê, ela se esquivou e vacilou pela escada do andar quebrando o pescoço na primeira curva, Coitada... nem se quer virou a escada.


Antes de o relógio bater meia noite (digo meia noite por que geralmente nas histórias de terror o clima é melhor por essa hora, não sei por que...) ele a pôs dentro do armário.


E toda noite sentavam juntos para jantar, ele e... ela. Não me venha dizer que é sinistro, esse texto não é pra tanto, vai... se fosse Poe, eu diria – Bravo. Mas nada... escritorzinho de periferia... não tem esse glamour... acontece que ele a colocava no lado esquerdo da mesa, toda noite, era sagrado, ou profano... perdoa-me a piada de mal gosto, mas sentavam-se à mesa, e, ele discutia seu dia, não ligava para o cheiro, muito menos para os seres que habitam nossos interiores e que despertam ao alarme de carne morta, dividia muito bem seu espaço com as centenas de inquilinos decompositores de sua esposa... e ela, não muito feliz, pelo menos o rosto não demonstra isso – se mantém calada, sóbria e de olhos arregalados, olhos verdes e sem brio, olhos que ainda guardam na retina o segundo lance de escada que não conseguiu virar.



Flávio Mello

3 comentários:

MPadilha disse...

Caraca! Sinistro! Macabro! Animalesco! Tudo, menos apetitoso! rsss
Muito bom! Digno do Vale e, que Poe nos escute, mas foi assim que ele, provavelmente, começou, ...?
beijos

Flávio Mello disse...

Oh meu amor... num vale... sabe que sou declarado seu lobo... sade... seu libertino...

adorei isso!

valeu minha eterna gruta escura!

Flávio Mello

Ana Kaya disse...

MARAVILHOSOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.
NOSSA, FAZ MUITO TEMPO QUE NÃO VEJO UM TEXTO ASSIM. E TEM A CARA DO FLÁVIO EHEHEHEHHEHEHHE ELE VAI ENTENDER.
PUTA MERDA CARA, PARABÉNS. SEM MAIS PALAVRAS, MEU HERÓI.
BJS