segunda-feira, 13 de outubro de 2008

NO BECO DOS RATOS.




Conta à lenda, nesse lugar, numa valeta úmida numa rua sem saída, uma moça cujo ventre esvaído em sangue iniciava um aborto forçado veio a resolver seu suposto problema.

Ali entre a imundície, fez com que o feto que carregava no ventre viesse ao mundo, estripando-lhe, decepando-lhe os membros cortando-lhe a vida muito antes dela começar.

Há quem diga que a moça de cócoras mesmo, colocou e pequenino para fora de si. Num baque pesado e úmido o bebe de quatro meses de gestação já um feto quase que formado caiu no chão. Com um grito de alívio e alegria a moça - uma menina de não mais que quinze anos - deixou-se cair por um momento ao chão pensando nas inúmeras possibilidades de futuro para sua vida sem aquele filho indesejado.

Mal percebeu ela que estava num lugar inóspito. Seus músculos contraiam-se devido ao grande esforço, ela se permitiu por um instante fechar os olhos e descansar. Os cabelos longos e claros se misturando com o lodo do solo.

Mal notou quando um grupo de ratazanas grandes e famintas devoraram o feto que ela a pouco havia expelido a força para o mundo.

Ela ainda arfava de cansaço quando uma dor horrenda e feroz subiu-lhe as entranhas. Era como se adagas lhe penetrassem o baixo ventre.

Ocorreu-lhe por um instante a idéia de que Deus lhe punia por seu ato de covardia, ou que o próprio demônio a arrastava em brasa castigando-a por seu pecado. Porém a realidade era ainda pior que seus devaneios religiosos.

A menina pode ouvir o barulho de roer, seu abdome em poucos segundos se tornara uma massa ensangüentada. O pensamento ficara para trás então, ela não tinha condições de entender a triste ironia ocorrida, do infanticídio ao semi-suicídio.

Enquanto a criatura agonizava esvaída em sangue naquele pedaço de rua escura, as ratazanas – que de tão grandes pareciam gatos – arrancavam tiras de carne e corriam incessantemente para seus ninhos.

Afinal as ratazanas tinham muitos filhotes para alimentar. Eram boas mães. Mães dedicadas aos seus filhos.

E assim aquele lugar escuro no Bairro Industrial ficou conhecido como Beco dos Ratos

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Juliana T. P.

Um comentário:

Ana Kaya disse...

Ju minha prenda, caramba, vc sempre me surpreende mesmo.
E depois diz que não sabe escrever.
Falsa modesta isso sim eheheheh.
Parabéns, adorei.
Vc cada dia fica melhor menina.