domingo, 9 de novembro de 2008

17- Pedro Faria -


Dezessete

Ele precisava dar uma volta.
Saiu de casa com o passo apressado, e subiu no primeiro ônibus que parou.
Queria matar, destruir. Estava irritado com tudo. Achava que se alguém o olhasse nos olhos naquele momento, ele partiria para cima para brigar.
Com a intenção de se acalmar, ele fechou os olhos e tentou se lembrar de coisas boas. Porém, em cada imagem que lhe aparecia estava ela, e isso o fazia fechar com mais força seus punhos, até que suas unhas mal aparadas lhe cortassem superficialmente a pele áspera das mãos.

Para ele, ela havia morrido. Ele cansara de despejar seu carinho e amor sobre ela, e não obter nada em retorno. Ele queria apenas o amor dela, um tom de satisfação na voz dela quando conversassem. Um pingo de felicidade, de carinho, em seus olhos, quando ela o visse.
Ele queria se sentir desejado. E com ela, nunca tinha conseguido.

O ônibus seguia seu caminho enquanto ele olhava para fora: As pessoas, que não passavam de borrões para ele, cuja existência não lhe acrescentava em nada. Ele sentia ódio por elas, um ódio que vem do ciúme, da inveja, da vaidade. Ele precisava machucar alguém, ferir uma pessoa, fazê-la sentir como ele se sentia.

O que lhe despertou para a realidade foi a gota de sangue no assento a seu lado.
Ele balançou a cabeça. Tinha saído de casa justamente para esfriar a cabeça, para deixar a violência contida dentro de seu quarto, numa bolha. Mas ao que parecia, a bolha o havia seguido, e grudara em seu coração.

Puxou a cordinha, e saltou no ponto. Colocou as mãos nos bolsos da jaqueta e olhou ao redor.
Não conseguiu conter uma risada ao ver onde estava.
Tinha pegado justamente o único ônibus que lhe deixava à porta da casa dela e, como o bordão de alguma piada cósmica sem graça, era lá onde havia saltado.
Naquele momento, ele não conseguiu mais se segurar. A bolha de raiva tremia em seu peito, sua respiração tinha acelerado.

Ele marchou até a casa dela. Bateu vigorosamente na porta.
Quando ela abriu a porta, ele achou que iria desmaiar. Era esse o efeito que ela fazia sobre ele: Perto dela, ele não era nada, era como um fragmento de um gigantesco cenário construído para a diversão dela, no qual ela era o centro de todas as ações, e todos os diálogos eram sobre ela.

O olhar dela quando o viu foi de confusão. Isso não foi o bastante para detê-lo.
Ele investiu para ela, fazendo-a cair sentada numa poltrona.
Ela começou a gritar.
Após fechar a porta, ele se aproximou:
-“Não, agora você vai ficar sentada aí e me ouvir! Eu fiz tudo para você, tudo mesmo. Ouvi seus lamentos, tratei de suas feridas, enxuguei suas lágrimas. E você, nada!”
Ele estava errático. Seus olhos desfocados, como se estivesse drogado.
Ela tentou se levantar e fugir, mas ele a segurou de bruços na poltrona:
-“Eu vou fazer o que tenho que fazer. Eu vim fazer a cobrança”.
Havia uma estante atrás da poltrona. Ele puxou seu cinto e prendeu as mãos acima da cabeça, amarrando o cinto na estante.
Com seu joelho nas costas dela, ele tirou suas calças. Toda aquela briga o havia deixado excitado.
Arrancou a bermuda dela, e a calcinha. As nádegas dela estavam quentes, e ela chorava.
Ele queria que ela não gostasse.
Enfiou as mãos entre as pernas dela. Ela chutava e gritava.

Ele ignorou a vagina. Não, ali seria fácil demais.
Então ele a penetrou entre suas nádegas, de uma vez só. O grito dela foi horrível.
Com as duas mãos pressionando o corpo dela contra a poltrona, ele começou o vai e vem dentro dela.

Ela chorava, implorava para que parasse, mas ele não se importava. Estava adorando aquilo. Estava finalmente tomando o que sabia ser seu de direito.
A posição estava ficando desconfortável para ele. Então, ele a segurou por baixo, para levantar seu corpo na poltrona.

Quando a mão dele tocou no meio das coxas, uma surpresa: Ela estava encharcada! A puta estava gostando!
Esquecendo qualquer desconforto que pudesse estar sentindo, ele continuou mais forte.
Aí, ela riu.
Ele parou. A risada dela não era apenas fora de lugar, era horrível. Seu sangue congelou.
“É só isso? Vamos, mais forte! Vamos lá! Vai me dizer que já entrou tudo? É só isso mesmo?
Você me enoja! Precisa me pegar desprevenida, me amarrar, para fazer o que não teria coragem. Você é um fraco.
Mais! Você começou agora você vai terminar.
Mais forte! Mais, mais!”

Ele continuou se movendo, a risada dela ecoando em sua mente, suas palavras flutuando pela sala, ditas com uma voz gutural, que não era a dela.
Seu suor escorria sobre o corpo dela, e ele achava que ia desmaiar. Notou que estava muito fácil penetrá-la. Mesmo que o corpo dela tivesse se ajustado, estava muito fácil.
Olhou para baixo, e gritou.

As nádegas dela lhe envolviam a barriga. Ele estava entrando nela, como ele sempre quis. Estava se tornando parte dela, para sempre. Achou que deveria estar feliz.
Mas não estava. A única coisa que sentia era um medo paralisante.
“Isso, agora sim, mais forte! Somos apenas eu e você agora, amor.”

Ele gritou, e algo o atingiu no rosto.
Olhando bem, ele viu que era o chão. Estava caído em seu quarto, o suor do pesadelo lhe ensopava a camisa.
Esfregando o rosto, ele se levantou. As imagens do sonho iam e vinham em sua mente, e ele estava tonto com a queda. A última coisa que lembrava era de ter ido deitar com raiva.

Aí ele se lembrou dela, e deu um soco na parede.
Estava cansado dela em sua cabeça.
Levantou-se. Daria um passeio.
Isso o acalmaria.
Sim.
Uma caminhada. Talvez uma volta num ônibus.
E tudo ficaria bem.


foto- Rafael Pozzo

Um comentário:

Paulão Fardadão Cheio de Bala disse...

Baguá. Interessante, embora precise de um ou oito ajustes técnicos.