sábado, 8 de novembro de 2008

POEMA

Eu sangro um verso preso num chão duro
De forma vaga e crespa como um trilho
Um verso é desamor, pior que filho
E a forma é apenas capa em pé de muro..

Eu vivo no poema um mal completo
Que a letra não disfarça em pensamento
O verbo é uma imagem de convento
Palavra em fogo seco e incompleto.

Parti da treva em espiral projeto
Na pagina do ódio pelos cantos
Com números de chaga em sete prantos
Dum corpo sem sabor de sal infecto.

Poemas são descargas de impureza
Escritos sem favor do desconsolo
Poemas são as casas da incerteza
E ruas sem um “que” deixado em rolo.


Me fiz da ilusão do meu cimento
Argila que sangrava sem socorro
Num verso nunca vivo, sempre morro
No espaço que sobrou do meu acento.

Escrevo o que restou da primavera
Pedaços de casais numa alpercata
Em sinfonia triste de lagarta
Que finge ainda amar e só adultera.

Eu passo de mim mesmo um irmão sujo
Família amarga sem perdão nenhum
Pra esses é que eu como e ainda fujo.
.
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dos Anjos

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