segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Marasmo


Foi-se o domingo morno, menos que um dia neutro. Andei de um lado para o outro como um velho leão de circo. Não me senti confortável em nenhum canto, nenhum filme me interessou, a música não se exerceu. Enfim, eu quis estar num outro lugar por todo o dia, nem sei onde, tanto que não fui. Os domingos têm se tornando esquisitos há tempos. Creio que sempre me senti um leão velho andando dentro de uma jaula, então estava sempre indo para algum lugar. Apenas aquietei-me um pouco no último período, por um bom motivo.
Se chover num dia assim, ganho com algumas ausências na desprogramação do domingo, vou fingindo de morto, enquanto durar o marasmo morno no clima que me envolve. Agradaria-me menos dessa normalidade de finais de semana, que fossem salpicados por um pouco do dito útil dos dias. Na última noite, um velho pesadelo de estrada, que permanece, que sempre diminui a empolgação para sair, quando nessa falta do que fazer.
No caminho do mar, a imprudência não se camufla em pureza de sentimento, um descuido no piso traiçoeiro e, o abismo cresce. Há um retorno antes, tome-o enquanto é tempo. Depois, é onde se desenha com tinta branca no asfalto, a silhueta de um homem descuidado. Nesse caminho escorregadio, a incerteza nunca acompanhou quem chega do outro lado. Se entrar na curva, então se entregue por inteiro, abrace-a como o seu maior tesouro, sua vida depende unicamente de que ela não caia ali. A quem vai além, temendo o escorregadio do piso, a espera cínica dos braços do abismo.
Ricardo Jaffet, aí você ainda tem retorno, depois, ou está muito certo de saber tocar, ou o prenunciado chão, abaixo dele inclusive, para o que finge e na última hora vacila trêmulo. Seu descuido é tomado por débito, e por todos os cantos têm um dito buraco quente, é de onde lhe observa o ente que lhe cobrará a alma, avisado de seu audacioso despreparo. Esteja atento, ele olhará nos seus olhos bem no meio da sua incerteza, e, se ela escorregar, o abismo será o prêmio pelo seu atrevimento medroso.
Um pesadelo de estrada, agora sabe, observe quem olha nos seus olhos, é hora de começar a se preocupar com a sua conhecida imperícia. Ou tem coragem para tocar até o outro lado, ou nem saia de casa num dia assim, de muito marasmo. Finja-se de morto e viva.

Um comentário:

MPadilha disse...

"Finja-se de morto e viva", o resumo da vida está aí...Na mosca! Só assim se consegue. Profundo seu texto. Beijos