O viandante vinha displicente na sua montaria.
O luar claro. A noite silenciosa. A brisa noturna amenizava o intenso calor àquelas horas mortas.
Adiante, no carreiro, distinguiu um vulto preto.
Estacou na sela, teso. O cavalo refugou, meneando as rédeas e crivando os cascos na terra.
-Eia! – bradou o homem, um tanto inseguro diante do desconhecido.
O vulto não respondeu. Mas pareceu serpear em rito macabro, evolucionando como se se enleasse em invisível coluna.
O cavalo baforejou, recuando ante o retesar das rédeas e o espicaçar da espora.
A cavalgada foi longa. O homem ouviu gargalhadas atrás de si, e baforadas frias, fortes, intermitentes na cerviz.
Suores frios invadiam todo seu dorso, refletindo em arrepios medonhos.
Não ousou olhar atrás de si. E berrou, pelo vasto altiplano, descobrindo já em casa dum colono que sua covardia fôra ouvida por distâncias longas.
No outro dia, ele e seu cavalo, revestidos de bravata, sob o sol alto e a companhia de dois peões, foram até ao local amaldiçoado.
Qual não foi seu espanto, sua surpresa, sua vergonha – quando detiveram-se diante de um toco – um toco preto, resquício de aroeira impiedosamente fendida por um raio, há décadas.
Sim, um toco – um toco preto!
Longe do luar, que incita ao cenário fantástico; longe da penumbra da noite, que imprime nas retinas as oscilações de uma mente alterada; e banhado pelos raios do sol – o toco preto revelou-se inanimado, inócuo, rijo.
Um comentário:
Eu já havia lido essa relíquia do nosso amigo Mago lá na comunidade, muito bom!
Nos remete a fantasia, ao enganos dos olhos...Na escuridão muitas formas nascem e delas muitas vidas se perdem.
Muito bom mesmo!
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