domingo, 14 de dezembro de 2008

MEA CULPA

Edward Hopper
Ouço as batidas graves, mas, não vejo o teu sorrir.
Ao longe singram nuvens inúmeras aves
em busca de um sul, em busca de um sol.
E o horizonte finito de realidade
abre-se em leque encarnado,
tal os lábios de porcelana.

Vejo as leves silhuetas de sombras,
mas, não anseiam ver a luz.
Ao passo que por ironia
ouço a cigarra desafinada,
resplandecendo a pós-chuva.
E os coágulos solares
despejando-se sobre a moldura cor de terra.

E meu corpo que de menino tem-se nu,
meus passos que a terra esqueceu de encobrir,
laços de fita cor de rosa que a menina, querida,
preferiu esconder ao me dar em presente (de passado).
Entretanto, o céu me parece mais amável,
e os sons dos corvos, enfim, cessaram.

Ecos de palavras não reverberam nas encostas rochosas.
Meus dedos não encontram areias de praia,
não sentem espumas de ondas,
meu rosto ruborizado, vergonha, não sente a maresia,
e a maresia de minha preguiça não me denuncia.
Agora ao ler do livro, monumento ideológico,
sinto as palavras digerirem,
e o estomago empapado de lirismo
Vomitar versos semiescritos.
E então, o sol e o sul e as aves,
singram em meu cérebro, dando-me além de medo
incentivo intelectual.

Consigo definir o que é real, o que é razão,
porém não sei definir Amor, Saudade, Emoção.
Meus dedos não encontrando a areia para riscar seu nome,
curvam-se em sinal de dor.
E o amor que como ave parte de mim em duas metades, vai ao horizonte de finita razão despedir-se de mim...
a razão, a emoção e o amor...
partem em revoada em ventania em trovoada.

E mea culpa de ser poeta...

Desfragmenta-se nas páginas amarelas dum livro
Na cabeceira de seu peito.




Flávio Mello

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