sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Do meu diálogo com a morte

Que a morte me traga consigo no seu bolso
e que no avesso do meu osso
eu descubra que nada da vida foi em vão

E que a trilha se perpetue no caminho
de um andarilho bem mesquinho
que só pensa em juntar pão

E que da silepse que me busco
do contorno que ilustro
da sina que jaz no chão

da fonte que não se mantém
do intruso que vem do além
do pó, das cinzas e do caixão


— Morte, que traz consigo para dar a mim?
— Nada que você deva temer
— Algo que eu deva agradecer?
— Só se isso te machucar.

E do prisma que atinjo
que de vermelho me pinto
Em cristais de sofreguidão

E do aparelho bucal
aparência mais frugal
De conserto de pilão

— Morte, por que ainda não me levou?
— Você não merece morrer. Minha lança é um prêmio só para aqueles que descobrem sentido de viver.
— Mas, Morte, se eu descobrir não vou querer mais morrer.
— Eu sei.

Do poço em que me afundo
de morrer faço meu submundo
E de viver meu cão

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