quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

13 Andares




Arsênico: O arsênico inogânico trivalente (As3+), interage com grupos sulfidrilas de moléculas orgânicas. Algumas enzimas são afetadas ocasionando danos na respiração celular.



SEGUNDO ANDAR:
CONJUGÊS



Jurema olhou-se no espelho. Nua. Contemplava o hematoma sob a costela direito no dorso. O abdômen ainda gracioso apesar dos 35 anos, nas cochas da mulata marcas vermelhas.
Atrás sobre a cama Alemão se agitava, o cabelo loiro grudado na testa, o suor sobre o ventre redondo e estufado, nos cantos da boca a saliva seca esbranquiçada. Ela pode ver o reflexo do homem pelo espelho sua língua, agora saia da boca em espasmos.
_Gahhhhh...
O homem emitiu um gemido gorgolejante seguido por uma seqüência quase cômica de gases barulhentos.
A morena passou a mão mais uma vez sob a marca protuberante na pele, colocou a camisola de cetim rendada e pôs-se a olhar o homem que ela amava e aprendera a odiar agonizando no leito onde tantas vezes deitaram-se juntos.
O apartamento era arrumado e cheirava como um templo indiano. Na entrada sempre havia um incenso de lavanda queimando - Para afastar o cheiro da Indústria de Couros e os maus espíritos – dizia a mulata. No seu íntimo ela acreditava que o perfume ajudaria a exorcizar os demônios da alma do marido.
A mulher sempre fizera questão de manter a casa em ordem e o marido Romualdo, mais conhecido como Alemão, bem cuidado.
Os dois moravam em um bairro pobre repleto de Indústrias. Romualdo trabalhava numa indústria de couros à cerca de três anos. Nesse meio tempo o homem começara a render-se à bebida e aos vícios dos companheiros de labuta.
Às vezes Alemão chegava em casa trombando nos móveis e escorando-se nas paredes. A mulata tentava ajudar o marido a recompor-se e volta e meia acabava por levar uns bofetões do bêbado, que se tornara cada vez mais asqueroso.
Fora exatamente o que acontecera naquela tarde quente de verão. O homem chegara em casa levemente embriagado. Se Deus tivesse tido piedade ele estaria semi-inconsciente. Mas não pelo contrário, Alemão chegou cheio de vigor e ira ao mesmo tempo.
A mulata sentava-se na poltrona de couro enquanto a televisão anunciava o início da novela das seis. Alemão entrou trocando passos pela porta do apartamento número 2. Mal olhou para esposa, os olhos claros avermelhados pelo excesso da bebida. Ela procurou ignorar. Era o que vinha fazendo há algum tempo para evitara as palmadas do marido que haviam se transformado em surras no ultimo ano.
_Que droga de comida é essa...?
Jurema ouviu a voz engasgada do marido. Não teve tempo de responder ou de esquivar-se, quando a panela de ensopado e carne voou sobre ela molhando suas coxas a pele gritando em brasa pelo calor da comida recém cozida. Instantaneamente a mulata tirou a saias, tentando livrar-se do liquido quente. Quando a pobre mulher conseguiu ficar em pé Alemão abruptamente esbofeteou-a, jogando a franzina criatura para o chão em meio a pedaços de carne e vegetais espalhados pelo assoalho do apartamento.
_Agora você trata de se levantar daí e colocar essa saia no lugar mulher.
O nariz sangrando os cabelos caindo sobre o rosto, ela tentou se levantar apoiando-se na poltrona. Olhou para o marido com vontade de chorar, mas não pode, cerrou os dentes, um nó formado-se na garganta.
Alemão tinha agora um meio sorriso no rosto. Ele olhava a mulher, - É assim que ele gosta, subjugada, humilhada. Ele o macho da casa, o rei do seu castelo. A imagem provocou uma ereção quase que instantânea no homem que mal conseguia manter o pênis rijo dentro da calça jeans.
Ele agarrou Jurema de forma brusca, tapando seus protestos com um beijo grotesco. A língua forçou com brutalidade a boca da mulata que sentiu náuseas quase que insuportáveis, enquanto sua calcinha era arrancada e rasgada ao meio. Alemão roçava o corpo contra o corpo pequeno de Jurema, as queimaduras recém feitas ardendo em protesto. O homem mal parecia lembrar o que acabara de fazer. Contentava-se em penetrar com força o ventre da esposa enquanto o nariz da mesma expelia um rio de sangue vermelho vivo.
No final do ato não havia se quer vestígio de lágrimas nos olhos da pequena Jurema, apenas um olhar opaco que pouco revelava sua condição extrema de sofrimento.
O homem se retirou da sala as calças arriadas até os joelhos. A mulata ainda continuou estendida no chão, o sêmen escorrendo por entre suas pernas, ao lado do rosto um hematoma começava a se formar.

***


Os três homens conversavam animadamente, um deles um rapaz negro havia trazido sua namorada. Jurema os recebeu com sua habitual gentileza, não levando em conta a suposta namorada do rapaz, mesmo sabendo que ele era casado. Os três bebiam cervejas geladas enquanto a mocinha com longos cabelos loiros e perfume barato bebeu uma taça de vinho com Jurema que serviu o jantar para todos. Exceto para Alemão.
_Não se preocupem rapazes, o Romualdo vai estar aqui para a sobremesa.
_Nossa! Nunca vi o Alemão perder uma bóia. Melhor assim sobra mais para nós.
Disse o rapaz acompanhado da pseudonamorada. Todos riram, inclusive Jurema, que estava de muito bom humor, na noite.
O jantar foi servido de forma impecável. Todos se fartaram e beberam. Jurema retirou-os pratos sozinha sem perder o sorriso nos lábios. Tudo feito da forma como Alemão gostava. Ela sua humilde serva. Ele o centro das atenções. –Que assim seja- Sussurrou a morena.
_Será que o Alemão vai estar aqui para desfrutar da sobremesa conosco.
O rapaz gordo e bem vestido perguntou a Jurema.
_Ah sim. Ele vem sim.
Todos estavam conversavam em voz alta, a loira de ar vulgar terminava de servir a ultima dose de vinho quando Jurema entrou na sala.
Na bandeja a exótica sobremesa. A cabeça de Alemão adornada por cerejas vermelhas. Os olhos azuis arregalados a boca aberta numa expressão de eterna surpresa com um a maça dentro da boca, ornamento de porcos a um porco.
Jurema apenas ria. Enquanto um dos convidados, o bem vestido vomitava, o resto parecia atônito.
Jurema ainda sim ria.

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Juliana T P

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