segunda-feira, 16 de março de 2009

Analise Franciscana, hipocrisia Humana (...)


A sombra magra e arqueada de meu corpo
reflete apenas um fio de cabelo encharcado de sangue.
Minha imagem na ponte suspensa da persistência
é alienada feito uma adoração platônica,
emite acordes dissonantes, lágrimas de um violino
tocado por um cego no cais da alucinação inerte.


Minha sepultura vaginal
Túlipa Negra - meu único pecado carnal.
Assim, minha loucura! Casca de ferida aberta,
dilacerada feito o desejo de Pilatos...
Uma inocência me cerca, quer me possuir
como um demônio insensato dotado de ódio.
Meu medo de estar só é tão real quanto o diabo
e minha descrença é tão fútil quanto Jesus Cristo.


Sim, sou Ateu. Ateu como Galileu
e não me importo, não ligo para suas vestes
mesmo que elas recebam detalhes pesados de ouro
ou ornamentos de pedras preciosas.
Não troco minha poesia por um dobrão de sua fantasia.
Falsos profetas despencam de árvores secas
assim como a saliva de um Deus ausente.
Que toda minha aversão seja respeitada e minha
incredulidade para sempre seja lembrada.


O sangue escorre pela calçada, um sangue negro pegajoso e fétido.
Tão fétido quanto um mendigo morto!
Minha vida? É como a Dele, só que me resta ainda poesia.
Não a sol ardendo neste mundo de medo
mesmo que houvesse, ele com certeza seria de um tom negro
como o poço, como a garganta de Poe e os olhos de Hitler.
Sim, é o medo que assola meu quintal
como roupas que tremulam num fio de tecido humano.
Ouço, sim! Posso ouvir...
São os gritos dos anjos sem asas, apenas ossos. Sim...
Olhe para o céu, apenas uma lua
Olhe para os olhos de minha poesia, verás
Que ela arde nua.
Meu corpo transparente, pálido quase morto, é senão,
Uma pira sem chama.
Meu pecado é apenas o reflexo de seu descaso.

Vejo uma árvore morta, semiqueimada e com galhos
Quebrados, mas no pouco que ainda lhe resta. Nascem frutos!
Mas não frutos, frutos assim, crianças.
Seus pés estão grudados nos galhos, elas choram se desesperam.
Percebo que o que vejo, não é apenas uma alucinação,
Mas sim o reflexo de minha alma.
Aquela alma que perambula durante a noite, com suas vestes
Esfarrapadas. A mesma alma que abandona meu corpo
Quando sinto medo.

Agora amanhece, sim lentamente.
O sol se ergue – feio e quente.
Nosso destino nos olha sorridente
Sabeis, que éramos humanos e agora nos transformamos
Em roedores eretos, que se alimentam de restos.
Olhais, para o espelho. Veja...
Seu sorriso amarelo, hipócrita e sem graça
Perceba, que destruímos o mundo e aos poucos nossos filhos.
E eu nem toquei no rosto do meu.

Que o excelentíssimo Álvares de Azevedo me perdoe,
Mas o invejo. Nascerá num ano de descoberta
Eu fiquei apenas com seus reflexos.
Olhe para mim, reclamo poeticamente desse mundo
Sem olhar para o futuro.
Já sei qual será nosso futuro...
Ele será a imagem que produzimos no nosso presente.
Belo presente.


De: Flávio Mello
Data: 10/12/00

Um comentário:

MPadilha disse...

é meu amigo, qdo se imagina o mundo daqui uns anos a coisa fica preta; e se percebermos que ja no momento atual algumas consequencias se percebem, é tristeza na certa...muito bom seu poema! vc é meu idolo, rs