terça-feira, 21 de abril de 2009

CIBÉRNIUS

Cibérnio era o garoto do Quarto Milênio.

A maturidade, nos globos que aspiram ao salto quântico, era apanágio das crianças desde o berço.

Estamos num mundo futurista. Em que a mente, aliada à eletrônica, fizeram da superfluidade um mito, e os objetivos da vida resumiam-se em aperfeiçoar uma civilização fria e maquinal.

O ser humano ainda conservava sua tipologia pré-histórica: tronco, braços, crânio saliente e envergadura apropriada às tarefas braçais e à habilidade para habitar as árvores. Inutilmente. O polegar opositor atrofiava-se, após séculos de desuso numa seleção natural entre seres que utilizavam a telepatia ou ondas de alta frequência entre chips implantados.

Cibérnius nunca vira uma ponta de grafita. Os monitores embalaram-no, educaram-no, coadjuvaram-no em seu aprendizado, e suas expressões resumiam-se a criações virtuais sob ondas cerebrais atiradas em chips de altíssima densidade.

O dia em que adentrara um museu, porém, fôra o marco da guinada daquele globo. Ali conheceu os velhos televisores de plasma, os transmissores de ondas de rádio, e toda a parafernalha eletrônica que revolucionara o mundo.

A um canto, uma grafita. Um compasso.

O menino estacou, curiosíssimo. Tocou o apêndice com sua frágil mão. Um guardião, ao lado, descobrindo a perquirição do garoto, revelou tratar-se de um instrumento de escrita.

-Escrita... - que é isso?

O velho trouxe-lhe um papel. Fê-lo sentar-se numa escrivaninha. E Cibérnius, confuso, tomou a grafita, o compasso, e com eles traçou um círculo.

Um círculo! Ele levantou-se, assustadíssimo, apreensivo. Reminiscências atávicas atordoavam sua mente biônica, tomada de chips e microcontroladores.

Quis correr. O velho guardião olhou-o, revelador.

-Cibérnius. Hás de salvar a Civilização. Fá-la reajustar sua visão. E, tal qual Klermer, ou Cocheiro, ensina-a a avançar no Amor, mais que no Conhecimento.

O garoto saiu dali, espavorido. Tinha ainda o polegar opositor. Era ainda tempo de mudar.

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