terça-feira, 19 de maio de 2009

Depois do fim do mundo- Giselle Sato












Tafetá de seda, sonhos brancos em organza, miçangas costuradas com cuidado, compondo intricado bordado: Lenços multicoloridos, xales franjados, cetim de seda, pés descalços deslizando... O vento frio, varreu as folhas e apagou o rastro, me peguei sozinha caminhando pela cidade nua, muros altos, céu cinzento...
Em uma esquina qualquer, olhares enviesados de gente que não faz parte de nada. Algumas vezes, meus sonhos se confundem com a saudade e finjo que ainda existem cores. Imagino o azul e o verde embora não saiba muito bem se um dia realmente os conheci. Tons rosados em luzes traslúcidas como a névoa que cobre a cidade.

Atravesso ruas em fogo, buscando a direção seguindo o cheiro da maresia. O vazio e o silencio tragam os que temem. Não há lugar para fracos no mundo das sombras. Houve um tempo e uma noite, em que valeu por toda a existência. O céu despencou em incandescentes pingos mortais e o povo correu desesperado. Mas não houve tempo e muito poucos assistiram o caos e a maldição de ser um sobrevivente.
Dos escombros eles surgiram, presos em cárceres da alma sofrida. Condenados, famintos, desfigurados, marcados em bandos exilados. A humanidade perdida em dores atrozes. Pedaços de gente sem forças e esquecidos. Desejo experimentar o toque e lembrar a suavidade da pele. Os aromas perderam-se desprovidos do essencial. Pedras, pó e terra vermelha são as únicas coisas que restam e nada mais faz sentido.

O amor são sombras que colhi em ramos: Buquê dos sonhadores, filetes e farrapos que tranço em meus cabelos.Na ponta da saia rota que arrasto, sou ninguém que segue sem rumo. Muito alem da eternidade. Ainda ouço os gritos das crianças e o balanço do jardim onde meu filho sorria inocente. Foi a última imagem que guardei...Ele subia e descia embalando o corpo e impulsionando cada vez mais alto:

- Veja mamãe, as estrelas que estão caindo do céu são lindas, brilhantes...

Mortais meu amado, mortais e eu nao sabia...E tudo que me importa hoje são catar pedaços de lembranças que me ajudem a não te esquecer. Que me mantenham sã neste inferno onde até o sonhos são negados.

Um comentário:

Lucia Czer disse...

Gi, como tudo que escreves, este texto toca-nos a alma, fala ao coração. A linguagem transmite toda a aflição vertente do ser. Muito bom.