sexta-feira, 17 de julho de 2009

Morro na Zona Sul




Vermelho de periferia
Cor do barro dos blocos
Barracos em alvenaria

Quando nasci isso já era assim
Morros e morros no mesmo tom uniforme
Vida que se adapta, meu sonho é inacabado

Uma vida de conquista, camisa suada
Asfalto na porta, uma conduça bem perto
Filho na escola e agora água encanada

A vida é longa se não se aposenta
Não prova os anos e ainda cria os netos
Agradece na igreja, evangélico de esquina

Direito ao céu, não sobra nem pra criança
Quita carnê, casa Bahia é quem salva
Não deve nem teme e anda limpo no gueto

Mas tem o filho e tudo ainda mais prolonga
Distância que assola para além dos limites
Gente que ama, que a vida multiplica

Entre esses jovens, há o que vende a paz
Sonho de poder, atalho pra grana
Não a política se aqui ele é muito mais

Dos outros morros vem a puta disputa
São becos, botecos, pedágio e mais tretas
Segura esse bagulho, ou então não se meta

Um paga pau por liberdade restrita, o perímetro
Rei do esquema, aqui cospe na cara
Não passa de um verme, uma isca pra tira

Outros dois manos de quem hoje não ligo
Um se acertou e sumiu dessa área
O mais esperto comprou e encontraram na vala

Abaixa o guelo numa moto que passa, o cara
É o tom do barro mais o tinto do sangue
Porta de banco, em pobreza não amarra e fala

Este vermelho é a periferia
E nesses blocos dá pra ver os pipocos
Aqui miséria é menor se for em alvenaria

Eu dou um tombo, nesse grupo não caio
Não sou político, mas eu monto na grana
Saio daqui, ou então eu morro tentando.

Vermelho de periferia
A cor do barro dos blocos
Barracos em alvenaria


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