segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A luz no fim do túnel




(by Lucia Czer)

Duas da manhã... Faz um frio de menos de nove graus, acompanhado pelo vento sul. Uma chuvinha fina e cortante bate no meu rosto, parecendo espinhos. Misturam-se com as lágrimas a escorrer pela face. Choro, sem saber por que.
Sob as luzes de néon da rodovia, alguns motoristas passam e, surpreendendo-se com o vulto de mulher, sozinha àquela hora, confundem-me com alguma prostituta em busca de programa. Soam buzinas, algumas piadas... Não ligo. Sigo em frente. Não uso nenhum agasalho pesado, nem bolsa, não queria nada que pudesse chamar a atenção de desocupados, queria evitar encontros desagradáveis.
Um carro para e ouço a voz da mulher, cheia de boas intenções:
- Moça, precisa de ajuda?
Meneio a cabeça sem responder. O carro demora um pouco, mas parte.
Desço pela estradinha estreita até a ponte férrea. A vegetação reluz, molhada pela chuva. Na via férrea, tropeço, os dormentes atrapalham meus passos durante a caminhada. Tiro os sapatos e os deixo, não sei onde. As meias de náilon começam a se desfiar. Que importa?
Olho para trás e vejo as luzes da cidade a piscar como palhaço alegrando a garotada, mas aqui, a solidão é completa. Fico com meus pensamentos. Nenhum rancor, nenhuma lembrança amarga.
Sinto os ombros doerem um pouco, talvez por estar de braços cruzados sobre o peito, encolhida no vestido leve.
Adiante, a luz branca se aproxima. Nada de arrependimentos, nada de rostos dos familiares mortos, nenhum filme com flashes da vida levada, nenhuma voz do além que chame. Afinal, isto é a realidade, não literatura.
A luz está cada vez mais próxima, ouço o apito bem perto de mim. Enfim, o encontro esperado, enfim, o baque. Sinto o corpo levantar-se velozmente às alturas, para, em seguida, ser jogado ao solo como se não tivesse nenhum peso. Ainda penso, vejo, ouço, para logo cair num vácuo profundo, escuridão, leveza, nenhuma dor... Somente paz!

Um comentário:

Simmons disse...

Realmente muito bom, parabéns