segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ASSASSINATO NA NOITE – mini conto


Raul chegou a casa aquela tarde, como todas as outras, vindo do serviço de meio período que conseguiu arrumar depois de dois anos desempregado.
Perdera a auto-estima e sentia-se um lixo, sem falar na esposa que o desprezava e não perdia uma chance de jogar na cara dele que ela estava sustentando a casa sozinha, que ele não ajudava nas contas, era sempre a mesma ladainha.
O dinheiro que ganhava no emprego não dava nem para as despesas do cachorro, seu grande e único amigo Thor.
Ao abrir o grande portão de madeira da frente da casa para colocar o carro para dentro, Thor veio correndo abanando seu rabo peludo era um lindo labrador preto.
Raul que já sabia o que ele queria, abriu a porta do carro para que entrasse e fosse sentadinho no banco da frente até que o carro estivesse totalmente estacionado.
_ É isso amigão, dê aqui um abraço e um beijo no papai.
Thor lambia o rosto de Raul deixando-o todo molhado. Raul não se importava, amava o cachorro mais que tudo.
Desde que Sônia fora promovida no banco, era agora gerente geral de grandes contas. Citibank, belo salário, ótimos benefícios e um bônus no final do ano que fazia valer a pena acordar cedo todos os dias.
Além de que ela, muito comunicativa, tinha dezenas de amigos com os quais saia depois do trabalho para beber, jantar e até dançar, largando-o em casa sozinho sem comida e sem amor.
O casamento estava desmoronando e ele estava muito triste, pois amava Sônia desde a adolescência, era sua rainha. Mas ele não era mais o príncipe encantado, havia virado o sapo para ela. Fazia meses que não faziam amor, dormiam na mesma cama como autômatos.
Sentado no sofá da sala, no escuro, Raul pensava e sofria.
Neste instante ele ouviu que Sônia chegava e até alegrou-se, que bom, pensou, ela chegou mais cedo, podemos passear juntos.
Abrindo a porta da sala com estrondo Sônia já entrou gritando com Raul porque ele não havia cortado a grama do jardim, que ele não havia limpado os excrementos do cão, aquele maldito cão fedorento, que ele não fazia nada que prestasse e que ela ia embora de casa, não agüentava mais aquela vida com ele, aquela vida vazia. Disse que encontrara outra pessoa e que ia pedir o divórcio.
Raul ouvia tudo calado, grossas lágrimas desciam por seu rosto cansado e de barba por fazer.

Para amenizar sua dor, Raul decidiu sair para passear com Thor assim que Sônia subiu as escadas em direção ao quarto do casal para arrumar as malas. O cão adorava estes passeios noturnos onde corria livremente na praça que havia perto da casa.
Raul sorriu ao ver o animal que ia de um lado a outro da praça em velocidade vertiginosa, latindo feliz. Isso compensava toda a amargura que lhe inundava o peito.
_ Cuidado Thor, não vá se machucar seu louco. Gritou para o amigo canino que neste instante corria para o lado mais escuro da praça, onde havia árvores grandes e majestosas, mas que deixavam o local tenebroso à noite. Os garotos haviam quebrado todas as lâmpadas da praça. Moleques idiotas.

Ouviu então um ganido alto e agudo que lhe arrepiaram os pelos do corpo.
_ Thor? Chamou o cachorro.
_ Thor onde você está amigão?
Sem resposta do cão que sempre vinha correndo quando ele o chamava, levantou-se do banco correndo e se dirigiu ao local de onde havia vindo o ruído terrível.
Ao chegar ao local Raul estacou paralisado, horrorizado com a cena dantesca á sua frente.
Thor jazia no solo sujo, com a garganta despedaçada, uma pequena poça de sangue ao lado do corpo imóvel.
_ Thor? Acorda amigão, o que fizeram com você? Oh meu Deus o que aconteceu aqui?
Raul chorava convulsivamente ajoelhado ao lado do amigo morto e nem percebeu o farfalhar das folhas na árvore logo acima de sua cabeça.
Um homem enorme, todo de preto, saltou do galho mais alto e desceu no chão sem fazer ruído.
_ Venha cá humano, esta foi apenas a entrada, agora é que vem o jantar.
Sem chances de se mover, dada a grande velocidade do monstro, Raul sentiu mãos geladas em sua garganta apertando e levantando-o do solo com facilidade jogando-o do outro lado da alameda. Raul bateu com a cabeça em uma árvore e estava tonto demais para resistir quando o vampiro pegou-o novamente e trouxe o seu pescoço para perto das presas que já estavam á vista, brilhando na escuridão.
A mordida foi dolorosa, Raul quis gritar, mas não conseguiu, foi sentindo-se fraco e cada vez mais fraco até que seu corpo jazia totalmente drenado, ao lado do corpo do cão dilacerado. Os dois mortos, estraçalhados sob a luz das estrelas.
Dando uma risada macabra o vampiro transformou-se em morcego e voou para longe dali, saciado por aquela noite.

Em casa Sônia estava furiosa com a demora de Raul para voltar. Ela pensava que ele não queria enfrentar a separação.
_ Que se dane, vou terminar de arrumar tudo e vou correndo para a casa de Geraldo, seu novo amor.
Dlim dlom.
Tocou a campainha. Ela praguejou quem seria a esta hora?
Ao olhar nas câmeras e ver que era a policia ficou intrigada e correu para abrir o portão.
_ Dona Sônia Macedo?
_ Sim, sou eu, o que desejam.
_ Sentimos informar-lhe, mas encontramos o corpo de seu marido e de um cachorro mortos lá na praça. Um garoto que voltava para casa mais tarde achou os dois. Nossos sentimentos senhora, mas precisamos que vá ao necrotério reconhecer o corpo.
Sônia sentiu um misto de tristeza e alívio e nem sequer derramou uma lágrima. Agora estava livre daquele estorvo e ainda por cima do maldito cão que soltava pelos por toda a casa.

Após o reconhecimento do corpo e do enterro, Sônia sentiu-se a vontade para trazer o novo namorado para casa.
De fato a campainha acabava de tocar, era ele, ela ficou trêmula como sempre ficava quando ele estava com ela nas últimas noites.
Abriu o portão e um grande e alto homem, todo vestido de preto, perguntou?
_ Posso entrar minha querida?
_ Claro Geraldo meu amor, a casa agora é sua.
Tendo o consentimento para entrar, Geraldo não perdeu tempo e ali mesmo no jardim segurou Sônia pelos cabelos e enterrou as presas no pescoço delicado sugando até matá-la.
_ Ha, ha, ha, ria-se Geraldo, o vampiro.
_ Uma família a menos neste bairro chique e cheio de burgueses.
E partiu na noite escura, em busca de novas vítimas.

By Ana Kaya

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