sábado, 19 de setembro de 2009

Dueto assassino- Giselle Sato e Pedro Faria




Ela

Gosto de jogos, de riscos e rasgos. Tragos e traços em finais imprevisíveis.
Ser musa é o preço de viver através da eternidade.
Gostaria que houvesse um toque de poesia e requinte, uma pequena alusão ao belo que compõe o quadro imaginário.
Contudo estou disposta a barganhar meus pequeninos luxos.
Imaginei uma cena mas bem sei o quanto gostas do grotesco, horrores que somente você consegue imaginar... E que te delicia não tanto quanto o calor do meu seio em tuas mãos, manchadas de dores e agonia.
Nascemos no mesmo dia, separados por minutos, em um parto maldito de uma carne morta. Desde sempre amaldiçoados, fomos separados, temidos e condenados. Mas um dia você me trouxe de volta e atravessamos o mundo dos vivos deixando um rastro de trevas.



Ele
Deitar contigo à luz da lua
Sob a lona que depois servirá de mortalha
Contando histórias, cantando, planejando

Transporemos essa muralha
Nosso brinquedo estará esperando
Primeira honra será sua. Sempre.

Alisarei os seus seios suavemente
Com uma mão, na outra o bisturi
Incisão inicial sob o pescoço frio

Minha mão no seu sexo, eu já sinto aqui
Brincando na umidade, entrando sem esforço
Lâmina deslizando lentamente

Pressiono-te contra mim, estou duro
Sua mão sobre a minha, no cabo da faca
Beijamo-nos enquanto o sangue jorra

Você desfaz meu cinto, meu pau como estaca
Penetra violento, como procurando desforra
Por algum mal, ou prejuízo prematuro


Animais no cio, e a vida sob improvisada cabana
Vai-se embora, atravessa para o além
Éramos três, somos agora um par

Gozamos, nos sentindo bem
Amamos, matamos, e voltaremos a amar
E a matar. Pois o sangue nos chama.



Ela

Olhos febris refletem medo e terror, perdem a inocência e odeiam.
O grito suspenso que jamais será ouvido, morre no murmúrio da mulher encolhida e trêmula. O homem tenta proteger a amada, você não permite e mostra sua força. Ele cai muitas vezes e eu peço que não o mate. Ainda.
Abraço a pobre moça e aliso os cabelos em cachos perfeitos. Ela é bonita e jovem demais, percebo seu olhar e decido cortar cada fio. A tesoura vai e volta enquanto as mechas caem...Caem... Formando montinhos.
Pequenas gotículas de sangue escorrem, ela geme sob as cordas apertadas. A boneca de trapos levanta os olhos azuis e me encara com raiva. Sou a ultima imagem antes da lamina destruir a cor.
E assim seguimos, alguns nos chamam de monstros, outros de loucos e desalmados. Mas o que importa? Nossa essência é assim, mesclados em trevas, dores, agonia.... Seguimos.

2 comentários:

MPadilha disse...

Eta parceria de peso essa! Muito bom!

Ana Kaya disse...

Nossa que texto maravilhosoooooo.
Wowwwwwwww fiquei até sem fôlego.
Gi e Pedro, parabéns. Isto sim é escrever.
Gi, vc tá melhor a cada dia que passa, que orgulho de ti.
Adorei mesmo, diferente, surpreendente, pungente e sanguinário. Mistura ideal.
Beijos e mordidas a voces.
Congratulations.