sábado, 14 de novembro de 2009

O NASCIMENTO DO VAMPIRO

(Darkness)


A humanidade já se condenou outras vezes. A atual tribulação que a acomete não é a primeira, mas talvez venha a ser a última. A primeira vez, que a condenação caiu sobre a humanidade, a Atlântida ainda não sucumbira ao cataclismo que a soterrou, Sodoma e Gomorra ainda demorariam milênios a serem construídas, a era glacial só cobrira a superfície uma vez, e os grandes répteis haviam caminhado sobre a Terra há pouco tempo.
Assim que as iniqüidades praticadas chegaram a nível desproporcional, os anjos justiceiros foram enviados a Terra. Dotados de poderes extraordinários, eles podiam controlar os elementos desencadeando acontecimentos funestos para os condenados.
Dentre as armas trazidas, os justiceiros despertaram as bestas que haviam sido aprisionadas no mais profundo dos abismos; a consciência humana. Aqueles que vêem os lobisomens como o ápice de bestas sanguinárias iriam se aterrorizar com as bestas adormecidas mo âmago do ser humano. Elas não podiam ser detidas por força alguma que a humanidade tinha por usual glorificar.
A punição destituída de senso de justiça não passa de vingança insana assim, os justiceiros não foram enviados desacompanhados. Outro anjo foi designado para acompanhar a efetivação da justiça. Mesmo considerando a podridão que se espalhara pela humanidade, era possível encontrar alguns que não haviam se deixado contaminar pelo mal.
Enquanto os justiceiros perpetravam a justiça, ele mantinha-se a margem dos fatos se preparando para o momento em que lhe seria concedido o dom da misericórdia. Através de seu atuar, a humanidade conheceria a redenção e poderia continuar existindo. Passivamente ele aguardava.
Ignorando a extensão dos fatos que a dominava, a humanidade vivenciava tempos terríveis. Os povoados eram destruídos em sua totalidade, as almas, destroçadas, lançadas no abismo da perdição eterna.
Peste, fome, guerra e morte eram as faces externas com as quais os justiceiros se mostravam. Apenas as almas mais podres anteviam as verdadeiras silhuetas que traziam o fogo da justiça. A estas nada mais era legado a não ser a aniquilação.
O agir dos justiceiros pode ser comparado a uma nuvem escura que encobre o horizonte quando uma tempestade se aproxima. Ela surge em silêncio, traz o estrondo da destruição, rompe tudo que estiver em seu caminho e parte deixando apenas o som dos lamentos daqueles que sobreviveram.
No manifestar dos justiceiros, apenas a última parte se mostrava diferente. Sobreviventes era algo que eles não estavam orientados a permitir que existissem. Não fosse a intervenção de um Amor misericordioso e justo, todos sucumbiriam ao efetivar de suas ações e a humanidade seria varrida da superfície terrestre.
Mesmo tolhida em sua liberdade, a humanidade ainda persistia em seu errar. A arrogância desmedida aprisionando a humanidade na ilusão de que sua condenação viria por meio de um cataclismo gigantesco; dilúvio universal, meteoro descomunal, fogo celeste, enfim as mais disparatadas teorias. Mas a justiça manifestava-se através de elementos que não haviam sido considerados.
A erupção virulenta de epidemias desconhecidas abatia milhares sem distinção de classe social, cor, credo, orientação moral, todos estavam sujeitos aos efeitos do expurgo. Enquanto o tempo da Justiça predominasse, não haveria comiseração. Os lamentos eram ignorados, as preces caiam no vazio e a humanidade vivia o retorno de seus erros.
Os campos tornaram-se encharcados não podendo ser mais cultivados. Sangue e água misturavam-se em lagos vorazes que consumiam todo terreno a sua volta. As tempestades irrompiam sem nenhum sinal de advertência. No mesmo instante em que o sol se mostrava esplendoroso, uma nuvem opaca o exilava para além de seu manto escuro. O caudal líquido soterrava tudo que estivesse sob seu vomitar.
Aliado a devastação trazida pela peste, a fome ceifava ao sabor do cego avanço de seus forcados. Nada a plantar... nada a colher. Barrigas roncavam implorando por um misero grão, mas a terra fora violentada, o seio da Mãe Natureza sangrava e já não podia mais gerar os frutos que sustinham a existência humana.
Em um quadro tão dantesco o pior ainda estava sendo urdido. Os amaldiçoados que conseguiam sobreviver, aos justiceiros, passaram a extirpar os corpos sem vida de seus iguais. A carne putrefata era sorvida como se estivessem saboreando o mais suculento dos repastos. Civilidade? Humanidade? Nada mais havia sobrado dos conceitos equivocados que haviam sido tomados por Verdades.


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