quarta-feira, 14 de julho de 2010

O DESAFIO

Desafios eram comuns entre os amigos que se reuniam no clube dos destemidos. À parte os arroubos juvenis, eles se consideravam verdadeiros heróis, além de ignorarem o medo, adoravam sentir a adrenalina eclodir numa explosão de energia. Quanto mais arriscada, se mostrasse a aventura, tanto melhor.
No entanto, até mesmo entre os mais insensíveis ocorre estabelecer um limite para os desvarios a serem cometidos. Moradores de uma região interiorana, habituados aos costumes vigentes, mesmo desejando romper com a mediocridade da maioria, eles eram obrigados a reconhecer que alguns tabus ainda os incomodavam; entre eles, o território proibido. Nenhum deles admitia, mas o território proibido era um desafio que nem entre eles estava em consideração.
O tão temido território localizava-se além dos limites da área urbana. Uma antiga fazenda que o tempo e as políticas econômicas cuidaram em reduzir a um mero sítio. O terreno restante englobava uma considerável porção de terra e uma imponente, porém abandonada, construção.
Circulavam inúmeras historias a respeito do passado da casa grande, mas nenhuma delas podia ser comprovada. De todos os boatos que corriam, a única certeza era de que a fazenda tinha pertencido a um rico proprietário de escravos, um dos muitos cafeicultores da região. Alguns anos antes da proclamação da Lei Áurea, uma rebelião eclodiu e acabou em um banho de sangue. Quando as autoridades chegaram a propriedade os escravos sobreviventes tinham fugido e os corpos dos antigos proprietários estavam espalhados, divididos em dezenas de partes.
Desde então, as histórias se multiplicaram. Assombrações, maldições, mortes inexplicáveis, desentendimento entre as famílias que se atreveram a comprar a propriedade, enfim, todo tipo de superstição comum a lugarejos perdidos no tempo.
A rotina seguia sua normalidade até a chegada de um estranho. Um visitante em si já seria motivo de falatório e atenção sem limites, mas aquele estranho parecia decidido a se tornar o centro das atenções. Começando pelo automóvel incomum que ele dirigia. Nenhum dos moradores conhecia sua marca ou modelo, além deste detalhe, ele era todo preto brilhante e seus vidros escuros impediam qualquer observação de seu interior.
Fosse apenas pelo carro, ainda poderia se considerar alguém possuidor de índole extravagante, mas todo seu visual era destoante da habitual moda local. Assim como seu veiculo, o individuo trajava vestes negras, coladas ao corpo e tão diferente de tudo que conheciam que era impossível definir o tipo de tecido em que foram confeccionadas. Os longos cabelos brilhantes escondiam parte do rosto que se exibia ainda mais exiguamente devido aos óculos escuro que cobria os olhos.
Dizer que ele causou frisson inédito é seria minimizar as reações. Mas os mais incomodados foram os sócios do clube dos destemidos. Antes da chegada do estranho, eles eram a nata da sociedade local. Todas as moças se derretiam por eles, mas agora o estranho estava roubando toda a atenção. Em segredo, eles se reuniram tentando encontrar uma maneira de anular a interferência do indesejado visitante.
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