quinta-feira, 21 de abril de 2011

O segredo


irrompe o dia,
assim, como por muito insistir,
a destrancafiar-se da longa noite
onde o pesadelo ungia sonhos
e a boca louca balbuciava
desconexas verdades imperfeitas, assim,
como todas as verdades.
irrompe o dia
enquanto a lua derruba sua tristeza
encharcada de nuvens, estrias de ventanias,
de sombras incandescentes; comovida com a desesperança
que resta sob esta pálida luz bipolar.
irrompe o dia
a suplicar o novo, a suplicar de novo a todas as esquinas
para que não se virem, assim,
súbito, e para que as palavras não fujam por entre caules de
árvores outonais, desguarnecidas de folhas e flores, assim,
sem registro, mudas, inaudíveis.
irrompe o dia
a desesconder esconderijos, rotas de fugas fúteis,
inúteis navegares.
irrompe o dia a farfalhar fantasias vencidas
e a destruir as máscaras intactas de um tempo pretérito.
irrompe o dia no eterno aguardo da nova noite,
definitiva.

(Celso Mendes)

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