sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Preparação







A minha cabeça é meu atestado de óbito. Quando deitava no travesseiro e fechava os olhos sentia toda a pressão do "não sei o que" que comprimia meu cérebro. Um tumor? Uma veia estufada? Não sei...O que sei é que era evidente que um dia explodiria! Com certeza iria arrebentar e eu nem  me daria conta!
Quando estava de pé e me concentrava em algo sentia a tontura. Quando me estressava era como se alguns neurônios se apagassem. Esquecia coisas óbvias, se tinha desligado o fogão, se havia apagado a luz ou tomado os remédios...Todos os dias precisava de algumas pílulas para enfrentar a barra! Pior que, quando esquecia acabava tomando tudo de novo. Muitas vezes me sentia calminho, calminho...Dopado e meio! Provavelmente por ter tomado repedidamente os comprimidos. Ou era o meu normal a certa altura! Fazer o que?
Ontém alguém me tirou do sério! Só recordo que andei algumas vezes sem saber onde ir. Em casa, voltei  até a beira do fogão e me perguntei: "O que vim fazer aqui?". Não conseguia lembrar da dúvida de tê-lo desligado ou não...
Mais tarde fui até uma esquina e indaguei: Quem sou eu? Eu sei que tenho algo importante a fazer, um destino a seguir...Mas qual? O que?
Sempre quiz morrer dormindo. Fechar os olhos e acordar nas imensidão de um plano superiormente melhor que esse! Não gostei desse aqui! De fato, odiei!
Decidi que não me mataria, pois acreditava que não chegaria a esse plano maravilhoso se assim o fizesse. Mas, que eu me lembre é o único motivo que segurou minha mão! Não conseguia passar das ulcerações psicóticas, sempre banais.
E se a porta  abrir? E se ele novamente gritar comigo? Esquecerei do meu motivo? Por quanto tempo? Quantos minutos seriam suficientes para que eu desse cabo dessa porcaria toda? Eu lembraria que a vida é uma merda? Ou esqueceria o motivo dos motivos?
Eu  começava a delirar. Dizem que quando e gente está próximo da morte a cabeça viaja para longe...
Motivo de que? Lá vou eu  pelo esquecimento novamente. Da última vez foram três minutos. Acho que vou cronometrar dessa vez. Vixi! Esqueci! Meu cronômetro foi perdido na última enchente! A Última enchente! Quase me mata! Eu fui arrastado pelas águas. Bati em rochas, galhos de árvores, engoli tanta lama, tanta lama...Como será que escapei? Escapei? A lama existiu realmente? Sei lá...As vezes acho que não.
Toda vez que tento erguer o braço bato em algo sólido. Parece uma tampa de madeira de lei. Toda vez que abro os olhos a luz não entra, parece que estou cego. Eu grito! Grito! Nada.  Eu choro, soluço e só silêncio! Os dias não passam! Os instantes aqui são noites e mais noites...Tudo é breu! 
Preciso de ar, ele me escapa, mas não finda. Parece que ri da minha desgraça! Eu rezo para que acabe e eu morra sufocado, mas nada, nada...Ele parece sempre soprar mais um pouquinho, como se risse da minha desgraça! Desgraçado! Puto! 
Acho que vou dormir um pouquinho. Estou tão cansado! Quem sabe será dessa vez...


Me Morte

3 comentários:

Fєrnαndєz ♠♠ disse...

É bom saber que a blogosfera continua me surpriendendo. Seu blog é a prova disso, com textos bem escritos e que falam à alma.

Parabéns!!

http://terza-rima.blogspot.com/

Adroaldo Bauer disse...

Ainda pulsa a velha veia e a cabeça gira... não foi cremado; então, enterrado está. Seria lama não.

Luciana Nogueira disse...

Gostei muito das imagens do teu blog, e este texto, dos que li ainda, foi o que mais me prendeu... Também, acabei de encontrar o blog, rs. Admito que a página inicial dele me deixa um pouco confusa, mas... ainda assim, tem coisas boas aqui.