segunda-feira, 24 de junho de 2013

RECÉM COMEÇA O INVERNO

Por Juliaura da Luz Bauer

Foto de amanhecer em Porto Alegre, de Adroaldo Bauer.
Há muito pouca gente interessada no debate de ideias.
Há muita gente odiando pessoas que tem ideias.
Há pouco espaço para a expressão pública da solidariedade e do amor.
Há, como sempre, o discurso primaveril de quem diz que não sabe o que quer, já sabendo o que não quer.
Há também partidários de diversas legendas, os escancarados, os conspirativos, os clandestinos.
Há envergonhados que escondem de que partidos são...
Há antigos e novos oportunistas que se pretendem donos das ruas, como se as manifestações de protesto do semestre estivessem a inventar a roda e a descobrir a pólvora.
Minha vovó amada andou nas ruas nas jornadas do Petróleo é nosso, pela Legalidade para a posse de Jango e teve vizinha religiosa que somou com o padre Peyton importado pra organizar os cordões das marchadeiras que desfiaram rosários sem conta em orações e bençãos para o golpe de 1º abril de 64. Também me fala que caminhou com a gurizada espancada em 68, votou corajosamente na oposição contra o regime militar em 72, caminhou pela Anistia em 76, gastou voz e sola de sapato desde lá por liberdades democráticas e contra a censura à imprensa, que o general ditador Figueiredo transferiu pros donos de rádio, tevê e jornal em 1980. Vovó ainda me disse que andou mais ao lado dos milhões por diretas-já! em 84, e pela Constituinte que foi eleita em 86.
Ah, não nos esqueçamos dos lutadores da ação direta, que tem partido.
Há apartidários que em breve votarão ou formarão em partidos.
Há lutadores sociais de várias causas (que, bem examinadas, algumas até se contrapõem entre si) a somar nas belas manifestações de massa.
Há os que afirmam não terem líderes, mas já aparecem deles aqui e ali alguns porta-vozes...
A expressiva maioria dos que marcham pacificamente quer, como eu quero, um mundo outro, melhor.
Não o quero, no entanto, pavimentado por incendiários de latas de lixo, quebradores de vidraças, pichadores de paredes quaisquer, mochileiros-terroristas de aluguel atiradores de molotovs.
As belas cenas de massas em justos movimentos vem dividindo espaço ou substituídas nas mídias locais, nacional e internacional por imagens de combates ferozes entre população e forças da ordem... fogo e sangue em primeiro plano.
Só nos falta, desse caos orquestrado por quem já fez isso ao longo da história de exploração do povo brasileiro, emergir o grande líder das massas insatisfeitas com parte ou com tudo o que aí está...
A bandeira da moralidade e da ordem já está nas ruas.
O próximo capítulo da novela pode nos revelar o patriota que nos salvará do caos e do inferno.
A tragédia de outros tempos, no entanto, sempre poderá revelar-se uma farsa.
[ESSENCIAL É QUE NÃO SE RECUE DA DEMOCRACIA CONQUISTADA NAS DURAS LUTAS CONTRA A DITADURA MILITAR,  acrescenta aqui ao pé da orelha e da página Adroaldo Bauer Corrêa, o homem que me criou]

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