sábado, 22 de dezembro de 2007

Enxofre e coisas agridoces


Por Marcus Gonzalles



De relacionamentos fracassados vivia, vivia e morria. Cada dia um pouco e sempre um pouco mais. Converteu-se como um software, versão 8.0. Naquela noite, embriagado, abriu o coração como leite derramado se espalhando e infiltrando na terra, sem volta. Essas coisas o deixavam, sempre deixavam, um tanto contrariado na manhã seguinte. Vergonha, mesmo sabendo que havia álcool escorrendo dos olhos isso não o aliviava, e o seu mundo, invariavelmente, se tornava limitado.
Teve a idéia de matá-la. Comprou uma caixa de cerveja e as bebeu uma a uma, sozinho como um taco de beisebol sujo de graxa, deixado pra escanteio. Já tarde daquela nova noite se masturbou e guardou seu esperma num pequeno pote de vidro. Saiu determinado e bêbado. Tirou o carro da garagem, esbarrou no portão de tonto que estava. Sabia os lugares que ela frequentava e como era de se esperar, lá a encontrou. Pagou as moedas que ela queria e a levou para o motel. Treparam forte, uns quarenta minutos. Ela gostava devagar mas desta vez ele queria forte, bem forte. No ápice do prazer ele lhe cortou a garganta. O sangue jorrou-lhe na face, ela se debatia agonizante; ele continuava a estocar-lhe o pinto. Quando ela finalmente morreu ele se levantou aliviado, pegou o seu potinho com esperma e misturou com o sangue que encharcava os lençóis e manchava as paredes, gostou da total falta de sentido daquilo, bebeu. Depois ficou ali sentado na cama pensando, foi quando ela se levantou, se olharam nos olhos. Sentiu o estômago revirar e começou à vomitar, vomitou muito, sentiu que os pulmões poderiam sair pela boca e para seu total espanto, eles saíram. Estavam entalados. Com as mãos ele os puxou e jogou no grande espelho, as costas se uniram as costelas e ele sentiu o maior vazio que alguém poderia sentir. Se olhando no espelho ela enfiou os dedos na garganta cortada, viu que o corte era grande, levou os dedos no nariz e os cheirou, fediam a enxofre.

Marcus Gonzalles

Um comentário:

MPadilha disse...

Teu estilo continua sangrento, eu adoro.Muito bom.