sábado, 5 de abril de 2008

Era uma vez...


Era uma vez...


Longe, longe
teu ser dorme
enlameado lamê

Enrigecido sonho
de reviver

Reviver
o sol
que te cegava
a vida

Perdido ser
preso duende
nesta moringa
de vidro

Sentes a asfixia

Não me faças rir

Sem ritos, sem facas
a dormencia
te prende
na semi vida ungida

Sem promessas somes
como te fostes
na lama sanguinea
da seringa

A moringa de vidro
boia a transformação
do lodo da morte
a te transformar
em ave de rapina

Não me faças rir

Não haverá voo
Não haverá vida
Lambas a morte
que te destroça a face

A que chegastes

Retorcido
numa expressão torta
só terror

Nem meu sorriso amável
levaste

Amargura de que

Desta despedida

Se já nem ouves
nem antes ouvistes

Traga-te a morte
como um cigarro
de filtro molhado
que se descarta no
caminho da sarjeta

Minha asa negra
me leva

A noite
que me chuvisca
eu mesma
em busca
de outra presa


Angela Nadjaberg Ceschim Oiticica

5 comentários:

MPadilha disse...

Que prazer ver que conseguiu postar! Um poema muito lindo e com todas as características do Vale. Muito bom Angela!

Angela Nadjaberg Ceschim Oiticica disse...

Agradeço o comentário. Tentei e consegui, não foi difícil...

Ana Kaya disse...

Muito belo texto. Como disse a Me, digno de nosso Vale tão amado.
Poste sempre coisas assim lindas pra fazer de nossos dias, dias melhores.
Beijão

Adroaldo Bauer disse...

Mais do que era uma vez,
com certeza: Já era!
Outro em lamê virá.
E dure, quiçá eterno
enquanto seja encanto.
A fúria feraz aplacará.

Thiers Rimbaud disse...

mmle nadjaberg, interessante poema. algo de lamúria, sarcasticamente soprada.
Mmle eu gostei desse tom e a parte que me tocou tem aquele sabor de de uma bala de horte~~a amarga.rs

" - Traga-te a morte
como um cigarro
de filtro molhado
que se descarta no
caminho da sarjeta -"