sábado, 14 de março de 2009

AMOR IMORTAL


O tempo! Para os mortais uma condenação. Para nós vampiros uma maldição! Não poderia considerá-lo de outra forma, não depois de tudo que experimentei; não depois de ter sentido o peso que a imortalidade trás.
Às vezes penso que não vivi. Terá, tudo, sido apenas um sonho? Minha alma está tão ferida que começo a duvidar de minha lucidez. E se, nem mesmo vampiro, eu for? Ah, maldita herança! Por que eu?
A senda do tempo me prende num contínuo alvorecer. Mal a noite se vai e minha carne exige o descanso. Estou só em minha danação. A solidão é mais cruel que a sina miserável de ter de me sujeitar a servir-me do sangue alheio. Um parasita!
Mas nem sempre foi assim. Minha estirpe já foi numerosa. Já dominamos mais povos que qualquer dos grandes impérios humanos. Nossa influência já se estendeu por castas e culturas tão distintas que perdemos nossa identidade, o elo que nos mantinha unidos como espécie. Este foi o começo do fim.
Não lamento o fim de minha espécie. Sabíamos que a evolução nos levaria a extinção. Só não contava em ser o último. O peso de ser o epílogo da espécie é monstruoso. Sei que não há juizes aguardando minha falta ou meu fim, nem precisa, pois já me sinto condenado.
Vago sem destino por uma praia deserta. A grande cidade margeada pelo areal não significa nada. Nem mesmo fonte de alimento. Estou cansado e desejando a morte. Os carros são como torpedos sem mira.
Ao longe os sons corriqueiros preenchem a noite. Sirenes, gritos, buzinas, motores, explosões... tiros. Os seres humanos já não precisam mais de nenhum parasita, a própria espécie se tornou um.
Dilacerado por minha dor, permaneço estático, olhar perdido e vazio. A majestosa paisagem não chega a penetrar minha mente. O frêmito que toma conta de meu peito me faria chorar, mas vampiros não possuem lágrimas.
De repente um bando vindo do nada me aborda. Infelizes desgraçados! Se soubessem quem é este que abordam. O conhecimento chega tarde demais. Mesmo desejando a morte, não a quero pelas mãos desta raça imunda...
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