domingo, 14 de junho de 2009

SANGUE FRESCO - DA SEDUÇÃO AO TERROR

O rosto transtornado pela dor, uma dor que não me pertence, uma dor que não tange meu físico e, ainda assim, uma dor mortal. Há quanto tempo não miro o reflexo de meu rosto confrangido? Talvez tenham se passado séculos desde que a escuridão do inferno engoliu meu ser mortal e vomitou este monstro que assumiu minha identidade. A sanidade perdeu-se ao sabor do beijo agridoce de um ser abissal.


O rubro que domina minha órbita ocular evidencia a sede que abrasa minhas entranhas. O instinto animal supera qualquer sentimento de comiseração. A soturnidade de minha existência não pode ser avaliada por nenhum mortal. Sei que muitos almejam o mesmo viver que me aprisiona, mas isto é porque não são capazes de imaginar, sequer em proporção diminuta, a maldição que tange aqueles que se deixaram seduzir pelo fogo da eternidade.


Os sentidos aguçados me tornam um predador sem igual. Não existe ser vivo que possa fazer frente as minhas habilidades de caçador e, no entanto, a dor ainda me faz sentir o quão débil é meu existir. A dor me faz desejar o último ósculo que abraça todo mortal. Um desejo que, sei, jamais se concretizará.


O odor suave de mais um buquê a ser saboreado transporta-me a realidade que insisto em deixar. O alienamento precisa ser suprimido para que eu possa aplacar a sede que faz minha garganta queimar como se estivesse envolta em um recipiente ígneo. A hora é de caçar.


Volto meu olhar seletivo para a multidão que se aglomera no espaçoso salão. Jovens que se reúnem para divertir, extravasar as tensões advindas de um modo de vida artificial e nocivo. Talvez eu não seja assim tão monstruoso, afinal, o que estes seres, desprovidos de senso de preservação, poderiam haurir em seu futuro? Olhando-os tão perdidos em seus egoísticos desejos, chego a acreditar que não seja um mal, apenas uma extensão da tragédia que se abate sobre esta podre humanidade.


continua AQUI


Darkness

Um comentário:

MPadilha disse...

Darkness continua bom nisso! Excelente conto!