sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SOMBRIO

Os seres que vagam entre a vida e a morte possuem incontáveis semelhanças e diferenças, mas todos tendem a emanar energias abissais. Seus espectros liberam tamanha negatividade que chegam a suprimir qualquer outro tipo de energia. Suas atividades estão cada vez mais presentes no cotidiano da humanidade. Por que? Basta uma análise mais apurada para se entender o motivo da interferência destes seres em nosso mundo. O homem abriu, gentil e ansiosamente, as portas que os libertaram permitindo seu trânsito por nosso plano.
Espectros! Os seres trevosos não passam de espectros, desprovidos de corpo material, que ainda permanecem aprisionados em nossa dimensão. Mas existe um amaldiçoado que não pertence a nenhuma das espécies que compõem o vasto exército das trevas. Sua maldição começou quando se deixou conduzir mais pelo instinto do que por sua intuição.

As primeiras casas construídas pelos desbravadores ainda permaneciam aprumadas como a testemunhar o denodo de seus criadores. Mesmo que o homem moderno não preze pela memória dos seus, algumas de suas obras ainda insistem em se mostrar em meio à caótica paisagem hodierna.
Um dos antigos casarões localizado na agitada avenida já havia pertencido a uma poderosa família castelhana, seu destino foi menos cruel do que as outras que sobraram, um museu estava sendo instalado em suas dependências.

-- Tudo em ordem? Perguntou o curador para sua assistente.
-- Já verifiquei os últimos detalhes, estamos prontos para a inauguração.
-- Excelente! Teremos muitas autoridades presentes.
-- Todos ficarão deslumbrados com o resultado.

Ansiedade e agitação mundana à parte, o casarão destacava-se dentre os muitos arranha-céus que o espremia num restrito espaço. A noite que antecedia a inauguração do novo point cultural não poderia ser mais auspiciosa. O vento suave impedia que o calor, típico da época, se tornasse um fator desmotivador, o céu mostrava-se livre de qualquer indícios de tempestade. Tudo estava colaborando para que a inauguração fosse um sucesso.
Foi com o soar da vigésima quarta hora do dia que o desastre começou a se mostrar. Cinco guardas faziam a vigilância do prédio e, por se tratar de um edifício publico, não estavam preocupados com possíveis incidentes.
Antes de iniciarem a ronda regular, encontravam-se reunidos no imenso saguão do primeiro andar. As conversas eram tão amenas quanto seus ânimos. Aquele parecia ser um serviço extremamente mole que renderia uma boa quantia a todos.

-- Quem vem comigo para o andar de cima? Quis saber o mais velho.
-- Eu o acompanho. Ofereceu-se um dos mais novos.
-- Gerome e Natan vão para o térreo e você cuida deste andar. Orientou o líder.

As laterais do edifício haviam recebido revestimento de enorme e opacas placas de vidro. Ao percorrer os ambientes, podia-se ter uma visão privilegiada dos arredores. Sendo um dos mais novos, Dust encarava tudo com uma certa irresponsabilidade peculiar a sua pouca idade, mas também deixava-se impressionar por comentários alheios, esses, muitas vezes, feitos em tom de pilheria, mas que soavam sérios ao inexperiente vigia.
Um dos assuntos que haviam sido abordados referia-se as manifestações fantasmagóricas associadas a construções antigas como aquela onde se encontravam. Energias aderidas ao ambiente, mortos que não deixavam o local onde haviam desencarnado, almas penadas que vagavam sem descanso, enfim, as histórias foram muitas.
Dust preparava-se para entrar no pequeno corredor que conduzia as salas dos funcionários quando um brilho indistinto, incidindo sobre um edifício ao lado, chamou sua atenção. Aproximou-se das janelas para poder observara melhor. Sorriu descontraído ao certificar-se ser o reflexo de um imenso holofote que projetava um facho de luz em direção ao escuro do céu.
Seu riso perdeu-se num átimo. Sem que nada tivesse prenunciado, um estrondo ensurdecedor tomou conta do andar espantando o silêncio que dominava tudo até então. De imediato ele se deixou congelar onde se encontrava. A princípio julgou ser um dos colegas que derrubara algum dos objetos, mas os segundos se sucederam sem que ninguém se identificasse ou surgisse pela porta.
Como não ocorreu nova manifestação, ele relaxou voltando a sorrir. As histórias que ouvira deviam estar mexendo com sua imaginação. Não havia mais ninguém no andar. E mesmo que pudesse encontrar alguém, bastaria chamar por seus colegas. Tinha sido tolo por deixar-se impressionar pelo ruído.
De repete o ambiente começou a ficar gelado. Apurou os ouvidos na tentativa de ouvir o zumbido do ar condicionado, mas nada. O silêncio voltara a ser total. Apesar do desconforto, não voltou para apanhar o casaco deixado sobre um dos cavaletes dispostos na entrada do salão. A caminhada o manteria aquecido até que voltasse a entrada.
Além do frio, sentiu um arrepio intenso percorrer todo seu corpo. Esta manifestação o inquietou mais do que o desconforto causado pelo frio. Maldita imaginação que se deixava influenciar pela conversa de dois velhos decrépitos. Já espantava o temor quando seu corpo voltou a congelar-se incontinenti.
O que seus olhos estavam vendo? Havia uma sombra deslocando-se em sua direção? Não, não podia ser verdade. Estava sofrendo uma alucinação causada pelo seu medo. Aquele fantasma não era real, ele não estava vendo aquilo.
A recusa em aceitar o fenômeno não lhe serviu de escudo. Tão célere quanto silenciosa, a sombra aproximou-se fazendo com que o apavorado vigia perdesse qualquer desejo de reagir. Nem mesmo um berro de terror escapou-lhe, a ação do espectro foi fulminante.
A imensa e etérea sombra negra planou acima do corpo enrijecido, fixou, aquilo que podia ser tido como um olho, nos olhos do aterrorizado rapaz, mantendo-o imobilizado e mudo. Em um movimento circular descendente, o espectro aproximava-se cada vês mais do corpo. À medida que a distancia diminuía, as ondas de energia iam sugando toda vitalidade do vigia.
A pele foi sendo ressecada lentamente, a carne diluía-se em um suco pastoso que se misturava ao sangue acarretando o fluir de um liquido viscoso e mal cheiroso, os ossos iam se consumindo pela pressão desfazendo-se em pó. A morte foi lenta, dolorosa e cruel. O imenso espectro urrou ao completar sua ação.
O brado ecoou pelo andar extrapolando suas dimensões e invadindo outros ambientes. Tanto os dois vigias que haviam subido quanto aqueles que se encontravam no térreo, ouviram o sinistro grito. A mesma sensação de terror que imobilizou o primeiro vigia, também gelou os outros.
Desvencilhando da imobilidade que os acometera, dirigiram-se para o andar que era a origem do grito. Não haviam reconhecido o timbre da voz do colega e, portanto julgaram tratar-se de algum estranho. O colega deveria ter surpreendido alguém escondido nas dependências do museu.
Assim que se encontraram, ainda no saguão eterno do andar, olharam-se admirados. Seus olhares indicavam a agitação que dominava seus íntimos. O pressentimento de que algo muito ruim estava para se desenrolar, deixou-os em estado de alerta.

-- Vocês também ouviram? Perguntou o líder assim que viu seus auxiliares.
-- Não parecei ter sido Dust. Opinou um dos vigias.
-- Não foi ele. Confirmou o líder. Deve ser alguém que ele surpreendeu escondido por aí.
-- Vamos ajudá-lo. Adiantou-se Gerome.

Embora decididos e não demonstrando estarem dominados pelo medo, agiram cautelosamente empurrando a porta com lentidão. O salão estava deserto e em ordem. O fosco do ambiente conferia um aspecto sombrio ao mesmo, mas nenhum indício, que pudesse evidenciar algum perigo, foi notado.
Tão lentamente quanto haviam descerrado a porta, seguiram pelo interior do salão. Não notaram nada fora do lugar, nem mesmo a presença do colega. O silêncio absoluto os deixou incerto sobre como agir. Antes que os outros tentassem algo, Natan berrou:

-- Dust!

O brado ecoou pelo salão. Esperaram por alguns minutos e nada. A apreensão começou a dominar os ânimos, ainda sem constituir-se fator desestabilizante. Passos cautelosos avançavam pelo salão seguindo em direção ao corredor. O silêncio deixava tudo ainda mais enigmático.
Estavam próximos ao conjunto de salas quando o odor nauseabundo de carne podre penetrou por suas narinas. Sem que conseguissem definir qual sala exalava o fedor, começaram a abrir porta por porta. A iluminação reduzida dificultava a nitidez do interior, mas assim que descerraram a porta que guardava os restos mortais do vigia, sentiram o pânico gelar seus corpos.

-- Pelos céus! Que imundice é esta? Grunhiu o líder antes de tapar a boca e o nariz.

Os outros não conseguiram articular palavra alguma. Seus olhos viram aquilo que o líder ainda não notara. Pairando, como se fosse uma sombra ameaçadora, sobre aquilo que restara do colega uma imagem fantasmagórica os fitava com fúria. O medo paralisou todos.

-- Hei, o que houve? Por que esses olhares aparvalhados? Inquiriu o líder.

Ele não teve tempo para mais nada. Sem que soubesse a particularidade daquilo que o atingiu, sentiu uma fisgada em seu peito ao mesmo tempo em que sua vista era obscurecida por uma sombra gigantesca. O grito de dor, que tentou emitir, morreu antes que pudesse ser dado.
Diante dos olhares aterrorizados dos colegas, o corpo do líder foi elevado até quase chegar ao teto, tremores violentos o dominavam sem que isso fosse manifestação de seu dono. O sangue começou a vazar no mesmo instante em que a carne secava e os ossos estalavam numa clara constatação de estarem sendo pulverizados.

-- Vamos embora daqui! Gritou Gerome tão logo conseguiu recuperar o controle de suas faculdades.

O incorpóreo ser pressentiu a ação dos outros homens. Sem abandonar sua vítima, lançou energias na direção da entrada do edifício lacrando as portas. Ao baterem contra a madeira da única saída disponível, os vigias se desesperaram.

-- Estamos trancados! Exasperou-se Natan.
-- Que monstro era aquele? Francisco manifestou-se mais para espantar o medo do que procurando uma explicação para aquilo que testemunhara.
-- Temos que encontrar uma saída! Exclamou Gerome.
-- As janelas! Indicou Natan.

A altura não era suficiente para uma queda fatal, ainda assim eles consideraram a possibilidade de um tombo desastroso. Qualquer infelicidade e poderiam ficar paralíticos ou mesmo perderem a vida. A iminência de sucumbirem ao ataque da sombra, os fez relegar o temor a segundo plano. Procuraram por algum objeto que lhes possibilitasse a evasão, mas só haviam as peças expostas.
A indecisão sobre como agir custou caro ao que estava mais distante da janela. Natan sentiu ser jogado para cima como se não tivesse peso algum. o choque contra o teto provocou fraturas em diversas costelas e em um dos braços. A cabeça foi ferida e o sangue escorria por sobre os olhos.

-- Joga logo uma dessas porcaria contra a janela! Bradou Gerome.

Enquanto os dois colegas tentavam quebrar uma das janelas, Natan compreendia o inexorável momento que vivia. Estava para morrer e não tinha como fugir a ação daquele ser espectral. Mal chocou-se contra o solo e seu corpo foi elevado outra vez. Pairando no ar, sentiu o contato da substância, que compunha a sombra, queimar a superfície de seu corpo.
Não percebeu nenhuma chama indicando a existência de fogo, mas seu corpo ardia como se estivesse dentro de uma fornalha. Ao olhar na direção da transparente sombra, notou dois brilhos indistintos onde deveria haver dois olhos. O terror assomou com mais vigor. Labaredas vivas bailavam nas órbitas vazias da criatura.
Mas aquilo que mais lhe causou pavor não foram as chamas no lugar de olhos, mas sim a mandíbula que avançava para ele. A primeira mordida arrancou parte de seu ombro esquerdo deixando-o próximo da inconsciência. Com todas suas forças, rogou por um fim imediato.
A tentativa. De seus colegas, de quebrarem a janela mostrou-se infrutífera. Fosse a espessura dos vidros ou a pouca resistência das peças atiradas, o fato é que não conseguiam abrir nenhum buraco na imensa parede de vidro.
O sangue que jorrava do corpo do colega atingiu-os enquanto passavam por sob o local do ataque. A corrida até o reduzido corredor das salas permitiu-lhe colocar uma distância entre eles e a criatura, mas que proveito poderiam ter? Suas mentes sabiam que precisavam encontrar uma saída, mas o estado de aflição que os dominava impedia que raciocinassem com clareza.

-- Tem alguma saída por aqui? Perguntou Francisco.
-- A saída de emergência.
-- Onde?
-- Depois da última sala.
-- Vamos!

O ar que dominava o corredor externo os atingiu tal qual o sopro da esperança que tanto ansiavam. A liberdade precária permitiu antever uma fuga miraculosa, mas logo foram golpeados pela fatalidade. Ao chegarem ao piso térreo, viram a imensa sombra pairando no cento do saguão. O terror voltou a imobilizá-los.
Tão silenciosa quanto célere, a sombra se colocou sobre eles. Olhares esbugalhados se miraram sem conseguirem emitir qualquer luzir de esperança. Apenas a sombra da morte tornando-os opacos. Choro e furor mesclavam-se a tantas outras sensações que eles perderam a noção de tudo o mais. A iminência da morte travou suas mentes impedindo qualquer reação.
Uma força descomunal pressionou ambos os corpos em um choque inevitável. Como se tivessem duas mãos gigantescas a forçá-los em direções opostas, sentiram que seus ossos rasgavam suas carnes num esmagar colossal. Assim que a pressão começou a vaporizar o esqueleto, suas consciências se apagaram. O fim estava próximo.
A manhã começava a receber os primeiros vestígios da luz dourada do sol iluminando os imensos e vazios salões. As evidências, do ataque da entidade espectral, resumiam-se a manchas rubras no chão e nas paredes. Nada, dos corpos, havia sobrado. Quando os funcionários chegassem para o turno de trabalho, não encontrariam nada que indicasse o violento ataque perpetrado durante a noite. Apenas a ausência dos vigias chamaria a atenção para a anormalidade.
No entanto, nem mesmo isso chegaria a ser visto. Assim que o último corpo foi consumido por sua sanha assassina, a sombra volitou por todo o prédio. Energias inflamáveis emanavam de seu espectro incendiando as dependências do edifício. Em meio às chamas, um urro de dor e ódio logrou êxito naquilo que os aterrorizados vigias haviam falhado, os vidros do edifico se estilhaçaram como se não passassem de cascas frágeis.
O sangue ainda gotejava de suas vestes quando o ser incorpóreo penetrou em sua dimensão. Ali ele deixava de ser apenas uma sombra e assumia a grotesca conformação de seu amaldiçoado ser. Seus olhos luziam uma vibração plangente. A dor ainda dominava seu íntimo, a fome ainda devorava suas entranhas. Nem todo corpo que consumisse saciaria sua fome, nem todo sangue que sorvesse diminuiria sua sede.

-- Já de volta? Soou a odiosa voz de seu mestre.
-- Não preciso compartilhar sua presença.
-- Não, não precisa, mas tenho que fiscalizar as atividades de meus servos.
-- Não sou seu servo!
-- Tolo! Age como um demônio e acredita que não me pertence?
-- Minha queda nada tem a ver com você.
-- Oh, não, nisso tem razão! Mas assim que desabou, penetrou em meus domínios.
-- Quer discutir seu poderio de modo mais acintoso?
-- Está me desafiando?
-- Entenda como quiser.
-- Para onde acreditam que caminham as almas dos infelizes que trucida?
-- Não me importo com o destino que as esperam.
-- É claro que não. Tem-se em conta de ser mais, de valer mais que qualquer outra criatura.
-- Não tente expressar uma compreensão que está além de suas possibilidades.
-- O que julga que é? Um arcanjo injustiçado? Um espírito condenado sem razão? Um inocente sacrificado em lugar dos verdadeiros criminosos?
-- Não penso ser nada do que acabou de supor.
-- Um verme! É isto o que é!
-- Deixe-me!
-- Não suporta a verdade? Criou uma imagem tão irreal, para si mesmo, que lhe causa pejo encarar seu reflexo!
-- Está indo longe demais.
-- Isto foi uma ameaça?
-- Sente-se confiante de que não seria capaz de eliminá-lo, não é?
-- Você não tem poder para tanto!
-- Posso provar que está errado.
-- Hum, uma batalha! É tentador tentar descobrir como poderia sustentar uma batalha comigo sem atingir os indefesos humanos.
-- Não teria chance de levar a batalha até a superfície.
-- Claro que não. O todo poderoso arcanjo injustiçado é imbatível!

O escárnio que permeava o manifestar do visitante deixou o amaldiçoado enojado. Sua maldição já era um fardo pesado demais para sustentar, não precisava de mais aquele adendo a fustigá-lo.

-- Diga a que veio e me deixe!
-- Seu tempo está chegando ao fim.
-- Não preciso que você venha me avisar para saber quanto tempo ainda me resta.
-- Mas talvez queira saber como será o seu fim.
-- Não me importa como, desde que ele chegue.
-- Não será um rito breve. Será consumido por séculos.
-- Isto lhe importa?
-- Nem um pouco. Mas me permitirá saborear seu sofrimento.
-- Não é isto que tem feito nesses últimos milênios?
-- Nada me satisfará mais do que assistir ao seu martírio.
-- Martírio é para os santos.
-- Lógico! A execução de sua sentença é mais correto.
-- Já terminou?
-- Por agora, sim. Ainda voltaremos a nos ver.

O evaporar do visitante o deixou entregue a seus fantasmas. O cenário infernal que o cercava não lhe causava sensação alguma. Sua dor provinha da maldição que o acompanhava desde que falhara em sua missão. O fato de estar condenado a viver em um ambiente inóspito não o tocava.
As ígneas labaredas, que se elevavam dos incontáveis buracos existentes no solo arenoso, não chegavam a impingir nenhum desconforto a ele. Nem as emanações sulforosas, que acompanhavam as erupções ígneas, traziam qualquer sensação mais penosa. Seu espírito penava uma danação muito maior que qualquer castigo físico.
O tormento espiritual que o acometia originava uma dor que não podia ser, nem sequer, atenuada; um padecer que morte alguma poderia eliminar; uma agonia sem fim; um existir maldito que ceifava a vida de muitos.
Ali, no ambiente que lhe era pertinente, seus olhos vertiam as lágrimas que não era capaz quando estava agindo na matéria. Também era ali que ele se sentia mais consciente de tudo. As energias que perpassavam seu mundo eram, em sua totalidade, oriundas de planos inferiores. Mesmo sentindo o peso de sua nefanda existência, não tinha como fugir a sina assassina que o dominava toda vez que se sentia atraído ao mundo material.
Resignado, submergiu em uma imensa e voraz corrente de fogo. Até que a tração o levasse, outra vez, ao mundo dos humanos, que o fogo retivesse aquilo que não podia consumir. A dor, que as chamas lhe causavam, não atenuava sua maldição, mas servia para lhe purgar as energias da última ação. Ao se ver livre dos gritos aterrorizados de suas últimas vítimas, estaria pronto para transpassar o portal que o mantinha aprisionado nas dimensões inferiores e, uma vez mais, sairia para coletar as almas dos infelizes que se punham em sintonia com as energias oriundas do inferno.

Um comentário:

Simmons disse...

Uau, não tenho palavras para descrever o talento aqui, é evidente.
parabens