Duas pontas
Ao te penetrar, sonhei ser um punhal
Que abrisse caminho entre o seio beijado
E o coração nunca alcançado.
Talvez, se eu te rasgasse o peito
E abrisse o caminho a faca
Entre o leito e a emoção
Entre o repouso e a condição
Mais próxima da desejada
Essa lâmina teria matado em ti
Não o ser ou a mulher,
Mas, feito o signo de plutão,
Evocado a morte e a renovação.
E teu sangue, jorrado por razão justa
Escorrido da ferida e da boca
Evocaria outras taras
Bem menos raras
Totalmente aceitáveis.
Essa lâmina está cravada em teu e em meu peito.
Isso não tem jeito.
Essa faca, não de dois gumes, mas de duas pontas
Perfura o onde aporto
E acerta onde apontas.
E mata, insensível, as meras tolices
Que entendíamos
Como coisas prontas.
Um comentário:
Bom mesmo. Eu prefiro os poemas do Vale, combinam mais.
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