quinta-feira, 28 de março de 2013

Um herói contido



Meus olhos ardem como fogo.
Minha cabeça parece se partir atingida por mil estacas do mais puro ferro.
A dor que antes era tão pouca agora toma todo o meu corpo.
Minha existência se extingue a cada suspiro, pouco a pouco.

Você, espírito que me constrói, é o único a continuar aqui.
Saiba que seremos para sempre jovens.
Um de nós uma criança impedida de crescer.
Eis aí uma única falha, a solitária diferença entre mim e você.

Esteve tanto tempo preso nesta gaiola física, tão limitada.
Sabendo que na verdade seu potencial vai muito além.
Rastejando nos meus medos, assim como nos seus.
Escorregando nos nossos erros, caindo nas nossas próprias mentiras.

Enquanto cada sopro de vida te reduz, te deixa pequeno.
Isto é tudo que me possibilita existir.
Mas estou morrendo agora, então nada poderá te impedir.
Estou partindo mas isto não é para você um veneno, tanto como para mim.

Porque poderá viajar e vagar, explorar cada pequena molécula das suas loucas ideias.
Demonstrar cada vontade reprimida por um corpo incapaz.
Mostrar o quanto esta tão sonhada liberdade pode ser demais.
Ver e rever o quanto a morte é apenas uma divisora de águas, de uma vida não menos do que sagaz.

Agora que não estou mais entre a ordem das coisas que possuem vida.
Te libero então para correr em direção a seu único e real lugar.
Você nunca devia ter feito mesmo parte dessas tantas opressões e limitações.
Pois o que nasceu com asas, foi feito mesmo para ter o dom de voar.

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